Ivan Serguêievitch Turguêniev (1818-1883), autor de romances, novelas, contos e peças, foi o primeiro escritor russo a granjear fama fora de seu país. Tornou-se o romancista russo favorito de autores como Henry James, que via nele o ápice da sofisticação narrativa. “Relíquia viva” faz parte do ciclo de contos Notas de um caçador, publicados em 1852. Esse livro, sutil na arte e forte na perspectiva moral, é um dos marcos literários da década de 1850 na Rússia. Melchior de Vogüé o considera um dos melhores exemplos do realismo “superior” russo, e o posiciona no cerne (literalmente, já que o comentário está exatamente no meio do texto) do seu estudo fundamental sobre o romance russo (1886). Após um resumo do conto, ele diz: “Tudo isso não dá margem para análise: seria como se quiséssemos segurar asas de borboleta; a própria trama da narrativa é tão tênue, tão simples; muito pouca coisa por tudo que ali existe, ou melhor ainda, por tudo que ali não aparece. Diante do assunto, imagino como as diversas escolas literárias o teriam compreendido. Um romântico dos bons tempos nos mostraria a fatalidade acirrada contra aquela criatura; faria um protesto vivo contra a ordem do universo, um monstro doloroso, a mulher de Quasímodo [...] Nada de semelhante em Turguêniev; o escritor desliza discretamente pelas misérias físicas, com palavras [...] O talento está na proporção direta entre o real e o ideal; cada detalhe espelha a realidade, na mediania humana, e o conjunto é envolvido pelo halo do ideal” (tradução de Brito Broca).
Contos