«Em Ressurreição, além disso, o regresso à terra, como o correlativo físico do renascimento da alma, é belamente expresso. Antes de ir atrás de Máslova até à Sibéria, Nekhliúdov resolve visitar os seus domínios e vender a propriedade aos camponeses. Os seus sentidos fatigados brotam para a vida; vê‑se a si mesmo uma vez mais como era antes da “queda”. O sol brilha no rio, o potro focinha e a cena pastoril impõe a Nekhliúdov a plena compreensão de que a moralidade da vida urbana é fundada sobre a injustiça. Porque, no dialecto de Tolstoi, a vida rural cura o espírito do homem, não apenas através das suas belezas tranquilas, mas também no facto de abrir os seus olhos para a frivolidade e explorações inerentes a uma sociedade de classes. (…)
Em Ressurreição, tudo se baseia num puro golpe de acaso — o reconhecimento de Máslova por Nekhliúdov e a sua nomeação para o júri que lida com o caso dela. O facto de isto poder ter acontecido na “vida real” — o caso foi relatado a Tolstoi por A. F. Koni, um funcionário de São Petersburgo, no Outono de 1877, e a desafortunada heroína tinha o nome de Rosalie Oni — não altera a sua qualidade improvável e melodramática.»
Literatura Estrangeira