“Um hino comovente sobre a resiliência das mulheres e sua incrível capacidade de amor, lealdade, compaixão. É também um livro sobre o poder da ficção e da poesia.”
– The New York Times Book Review
Nas montanhas de Guerrero, México, como em outros recantos esquecidos pelos governos, não há homens entre os moradores. Quando adultos, eles partem para a cidade grande ou atravessam ilegalmente fronteiras, em busca do sonho americano. Lá, as mulheres devem se mascarar, se esconder ou até mesmo se mutilar, para ficarem menos femininas e passarem despercebidas aos olhos da elite do tráfico. À sombra da guerra travada diariamente, as jovens deixam de frequentar a escola, cortam seus cabelos e se escondem em buracos para salvar a própria vida.
Contundente retrato do México atual – muito semelhante ao que acontece em outras paragens do planeta –, Reze pelas mulheres roubadas, da mexicana Jennifer Clement, é um relato escrito em tom de observação antropológica sobre a brutalidade da existência no mundo invisível. No livro, a protagonista Ladydi vê, aos onze anos, a melhor amiga, Paula, “mais bonita do que Jennifer Lopez”, ser roubada para o harém de jovens escravas de um chefe do narcotráfico.
Nesse universo de solidão e miséria, as mulheres são deixadas para trás e precisam aprender a viver da forma mais incógnita possível. Enterram corpos de rapazes assassinados para que as aves de rapina não alertem policiais ou traficantes sobre a existência de meninas jovens. Congratulam-se quando uma menina nasce com lábio leporino, pois essa não será alvo dos traficantes.
Homicídios não têm investigação da Justiça, a impunidade é a lei que a todos rege. Furtar objetos das casas onde faz faxina é rotina da mãe de Ladydi, uma mulher que carrega a mágoa de ter sido traída pelo marido com todas as moradoras do povoado, antes de ele partir definitivamente para os Estados Unidos, onde, certamente, formou uma nova família. Os únicos homens que convivem com as mulheres, esporadicamente, são professores totalmente desinteressados em ensinar as classes de meninas, todas disfarçadas como rapazes.
A sobrevivência dita as regras locais. Batizada em homenagem à princesa Diana, desde pequena Ladydi se esconde num buraco camuflado perto de sua casa sempre que os traficantes surgem, em busca de informantes da polícia ou de jovens escravas sexuais. O desaparecimento de pessoas conhecidas não é lamentado por muito tempo. A oportunidade de ascensão social para Ladydi é trabalhar como babá na casa de alguém ligado ao tráfico em Acapulco, o que vai levá-la até a cadeia local, suspeita de cumplicidade por um assassinato, que ela mal sabe como foi cometido. Em seu caminho, encontra-se com variados tipos, que encaixam seus relatos na compreensão de uma rede intrincada de ilegalidades, que determinam a vida da camada inferior na pirâmide da sociedade.
Sem qualquer julgamento moral sobre as atitudes dos personagens, Ladydi é a voz da inocência que denuncia a negligência política no cuidado de uma população. A narrativa forte tem a velocidade da vida em eterno movimento pela sobrevivência. Mais que isso, o romance traz a denúncia de que aqueles personagens são reais e estão bem próximos de cada leitor.
Ficção / Literatura Estrangeira / Romance