Um homem sem as duas mãos dirige desesperado, tentando fugir de um lugar que não reconhece. Assim começa Sabor Amargo, aclamado romance de James Hannaham. A cada capítulo que passa saberemos mais sobre quem é esse homem, do que fugia e o que fazia nesse lugar que parece tão assustador.
O leitor vai tendo acesso a uma história atravessada pela escravidão contemporânea, preconceito e dependência, que se costura enquanto um filho, Eddie, busca por sua mãe, Darlene. Ela teve sua vida transformada pela brutalidade do racismo, do abuso e do vício em drogas. Darlene tem uma relação tão profunda com o crack que a própria droga, chamada Scotty, narra alguns dos capítulos. Ao mesmo tempo, acompanhamos como Eddie tenta sobreviver e vai em busca da mãe. Cativa na fazenda misteriosa por seus empregadores — e pelos próprios demônios —, Darlene luta para retornar à companhia do filho adolescente nesse romance singular sobre liberdade, perseverança e sobrevivência. Por meio da sua apavorante luta e dos esforços de ambos para triunfarem sobre as pessoas que os escravizam, e da voz irreverente e maliciosa da droga que narra os descaminhos de Darlene, a prosa ousada e inventiva de Hannaham infunde graça e humor a essa experiência tenebrosa. O papel de James Hannaham em seu Sabor Amargo é justamente o de abrir os olhos das pessoas para o fato de que a escravidão não apenas existe, como está em toda parte. Em matéria para a iniciativa Free the Slaves, o autor afirma: “Combater a escravidão é importante para mim porque eu gostaria de viver a vida sabendo que não estou contribuindo para o abuso ou a tortura de outras pessoas”. Ele ainda assinala que a escravidão é um dos “problemas mais escondidos e, ainda assim, um dos mais predominantes do mundo atualmente”. Para ele, uma obra de ficção consegue proporcionar um envolvimento emocional que nem sempre os fatos alcançam. Sabor Amargo venceu o Pen/Faulkner Award e o Hurston/Wright Legacy Award, e foi considerado um dos romances do ano de 2015 pela Publisher’s Weekly. Ao longo do livro, experimentamos a força de uma narrativa ao mesmo tempo urgente e histórica, que enfrenta questões atemporais de amor e liberdade, perda e redenção, tenacidade e ânsia de sobrevivência.