Os que partem do Nordeste fustigado pela seca forneceram a Graciliano Ramos o material para sua obra mais populas: Vidas Secas. Os que ficam lhe permitiram construir o romance que o projetou como um dos maiores escritores brasileiros: São Bernardo.
Como a paisagem árida e impiedosa do sertão nordestino, a narrativa de Graciliano Ramos se vale apenas do essencial. Para ele, o mundo não libera encantos, as paisagens são apenas pontos de referência entre os quais os personagens se movem. Esta linguagem crua e despojada está presente em São Bernardo, romance que tem a força de uma tragédia rural brasileira. Adaptado para o cinema pelo diretor Leon Hirzsman, ele conta a história de Paulo Honório, um homem simples que, movido por uma ambição sem limites, acaba por se transformar num grande fazendeiro do sertão alagoano, e casa-se com Madalena para conseguir um herdeiro. Incapaz de entender a ótica humanitária pela qual a mulher vê o mundo, ele tenta anulá-la com seu autoritarismo. Com este personagem, Graciliano traça o perfil da vida e do caráter de um homem rude e egoísta, do jogo de poder, e do vazio que acompanha sua perigosa escalada, onde não há espaço nem para a amizade, nem para o amor. São Bernardo segue, dessa forma, como o mais contundente romance sobre a solidão escrito em nossa língua.
Ficção / Literatura Brasileira