Como é ser um neurocirurgião? Qual a sensação de ter a vida de outra pessoa em suas mãos, de fazer incisões no órgão que cria nossos pensamentos e sentimentos, nossa razão? Como viver com as consequências de uma cirurgia malsucedida que poderia salvar uma vida?
São essas e outras indagações que conduzem o livro Sem Causar Mal — Histórias de Vida, Morte e Neurocirurgia, aclamado como um dos melhores lançamentos literários de 2014 por The New York Times, Financial Times, Washington Post e The Economist. Um relato forte e brutalmente honesto de Henry Marsh, experiente profissional inglês que diariamente toma decisões angustiantes sob uma atmosfera de total urgência e incerteza. O dr. Marsh palestra no segundo dia da Feira Literária de Paraty — Flip, dia 30 de junho, às 19h15, compondo o debate Matéria Cinzenta na Mesa 5.
No campo da neurocirurgia, mais do que em qualquer outro ramo da medicina, o juramento hipocrático de “nunca causar mal a ninguém” carrega uma amarga ironia — o livro oblitera qualquer noção que considere a neurocirurgia um ofício sofisticado praticado por médicos frios. Com compaixão e candura impressionantes, Dr. Marsh revela sua felicidade ardente em operar, os triunfos comoventes, os devastadores desastres, os arrependimentos amargos e momentos de humor negro que caracterizam a vida de um neurocirurgião.
Passando em revista sua longa carreira, Dr. Marsh descreve o tipo de profissional que era: orgulhoso, ousado, mas também imprudente. Ao mesmo tempo em que sua obstinação o impulsionava a resolver casos dificílimos e o aproximava dos pacientes, também infligiu danos permanentes ou mesmo perdeu pacientes por colocar a busca pela cura acima do cálculo dos riscos. Hoje, sabe que certas ocasiões exigem que o médico aja a fim de causar o menor mal possível — como garantir uma morte indolor ou mitigar os danos de uma doença grave. Henry Marsh , no entanto, escreve que sente saudades do profissional apaixonado e arrogante que foi no passado. Apesar de ser autobiográfico, o livro não se furta a refletir sobre a gestão do sistema público de saúde. Um observador crítico, Dr. Marsh lamenta que a administração pública esteja mais preocupada em sanear financeiramente o setor do que em garantir a qualidade de equipamentos, serviços e profissionais — em sua visão, os jovens neurocirurgiões de hoje não passam pelo treinamento necessário para trabalharem em situações de vida e morte.
Sem Causar Mal fornece um vislumbre inesquecível sobre os incontáveis dramas humanos que nascem de modernos e movimentados hospitais. Acima de tudo, é uma lição na busca por esperança quando se enfrenta as mais duras decisões da vida.
Medicina e Saúde