"Ao longo da carreira como jornalista e então como escritor, Eduardo Galeano convenceu-se de que a amnésia era um dos males que afligiam os países da América Latina. Amnésia essa em relação ao próprio passado e às próprias origens, provocada e frequentemente promovida a ferro e a fogo pelos colonizadores europeus, pelas classes altas, para acobertar o racismo, a infâmia, o papel espúrio da religião e o caráter eugênico detectáveis no desenvolvimento do continente.
Galeano tomou para si o combate contra este esquecimento, “contra a amnésia das coisas que valem a pena recordar”. Comentador dos tempos, ele buscava as pequenas vozes e as pequenas histórias que tivessem força para iluminar a vocação, a autoestima e o futuro dessa região do globo que ele tanto amava, onde, dizia ele, “estão minhas alegrias mais altas e minhas tristezas mais profundas”.
O presente volume não é exceção. O autor procura as raízes das brutalidades sociais que por aqui grassavam e grassam, ao mesmo tempo em que comemora as identidades, a cor e a diversidade latino-americanas. Tentar ser como “eles”, pensava, não era uma opção e só trabalharia em prol da sujeição dos povos latino-americanos.
Seja ao comentar o genocídio e o “outrocídio” cometidos contra os povos originários quando da colonização, a democracia racial que apenas garante que os brancos estejam no topo da pirâmide social e os mais pretos, embaixo; ou as imagens do “imenso” fotógrafo Sebastião Salgado – cujas fotografias, dizia, pareciam ter sido arrancadas do Antigo Testamento –, Galeano se mostra um humanista apaixonado por esta porção do globo.
Décadas depois de escritos, estes textos ressoam toda a verve, toda amorosidade e toda indignação características do autor."
Literatura Estrangeira