O sociólogo francês Pierre Bourdieu (1930-2002) foi um dos maiores intelectuais do século XX. Seus trabalhos sobre o mundo político, artístico e intelectual, todos construídos em torno da noção de poder e dos jogos de interesse, transformaram o cenário do pensamento humanístico - inicialmente na universidade e depois fora dela.
Sua estatura é comparável à de Michel Foucault (1926-1984), Roland Barthes (1915-1980) e Gilles Deleuze (1925-1995), outros gigantes do pensamento francês cuja influência se espraiou pelo mundo.
Sobre o Estado reúne cursos proferidos por Bourdieu no Collège de France entre 1989 e 1992. O foco da análise é a transição do Estado absolutista, próprio da Idade Média, para o Estado moderno, que vai se desenhando ao longo dos séculos a partir da separação entre poder político e religioso e da diferenciação entre os poderes.
A França e a Inglaterra do século XVII, por exemplo, já exibiam a feição característica do Estado moderno: um corpo político separado da pessoa do príncipe, da nobreza feudal e da Igreja.
O foco no Estado permite ver uma síntese do pensamento de Bourdieu. O autor sustenta a tese da constituição progressiva de um conjunto de campos - jurídico, administrativo, intelectual, parlamentar -, cada um como espaço de lutas específicas, uns competindo com os outros.
O Estado torna-se então a ficção coletiva que unifica todas as lutas de interesse, todos os campos de poder que constituem o cerne das preocupações do intelectual francês.
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