“Deixa dizer-te os lindos versos raros/ Que foram feitos pra te endoidecer”. Esse é o convite da portuguesa Florbela Espanca ao leitor destes Sonetos, produzidos pela autora há quase um século. A rigidez do formato e das rimas contrasta com a temática sombria e de uma sensualidade inovadora para a época.
Florbela Espanca se matou em 1930, no dia do seu aniversário de 36 anos. Teve uma vida pouco ortodoxa: divorciou-se duas vezes e ousou ir à universidade. A saúde mental frágil herdada da mãe, agravada pela dor de dois abortos espontâneos e pela perda trágica do irmão mais novo num acidente de avião, transparece nos versos que falam de mar, cinzas, pétalas roxas. Que celebram o corpo “ébrio de sol, de aroma, de prazer”, cortejam abertamente a morte (“Tão bom que deve ser o teu abraço”) e habitam “Reinos de ansiedade” incrivelmente atuais.
Literatura Estrangeira / Poemas, poesias