Tempo Morto e Outros Tempos ocupa um lugar singular na obra de Gilberto Freyre e na própria literatura brasileira. "É um livro marcante. No gênero nunca se fez coisa sequer semelhante em língua portuguesa", observa o próprio autor.
Redigido em forma de diário, a partir de 1915, quando o escritor tinha 15 anos, se estende até 1930, cobrindo todo o seu período de formação intelectual, da adolescência recifense aos anos de estudo nos Estados Unidos e as primeiras viagens à Europa.
Espécie de autobiografia juvenil, através do registro de reações íntimas, por vezes secretas, experiências mundanas, leituras, encontros com personalidades (algumas de influência decisiva no destino do escritor, como Oliveira Lima), é também, como todo documento memorialístico, o registro de uma época, seus hábitos e inquietações, problemas e esperanças, refletidos na vida particular do diarista, intercâmbio entre vida íntima e vida social.
O diário revela também, no adolescente curioso de vida, as primeiras inquietações com problemas sobre os quais, mais tarde, iria refletir de forma tão intensa, como o tempo, em suas várias coordenadas, o tempo cronológico, o tempo pessoal, o tempo social. Uma surpresa agradável é verificar que o jovem, que mal se iniciava nas letras, se revelava um escritor de excelentes recursos, com um estilo anunciador do texto personalíssimo e brasileiríssimo de Casa-grande & Senzala.
Enfurnado durante muitos anos em um baú, com uma grande parte destruída pelo cupim, o texto foi resgatado sem alterações, selecionados os trechos que o autor, na maturidade, julgou mais significativo. Diante disso, o crítico norte-americano Stephen Greenblatt classifica o livro como autoconstrução, documento que permite observar um homem maduro revivendo sua juventude, o que garante a esse tempo morto uma vivíssima atualidade.
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