Neste seu segundo livro, Gil Veloso reúne histórias endereçadas tanto a jovens em idade de leitura quanto a adultos em busca de humor, reflexão e boa literatura. Enfim, páginas “para anjos e marmanjos”, como diz o subtítulo.
Travessuras traz onze contos. Alguns são protagonizados por bichos, que constituídos em famílias ou círculos de amizade zoológicos, refletem comportamentos humanos emblemáticos (em “Travessuras”, por exemplo, temos uma pata às voltas com a hiperatividade de seus filhotes), outros por pessoas de carne e osso (“O Menino que Fazia Pipi Quando Ria”). Mas ao longo da leitura, acompanhamos até mesmo diálogos com almas já transportadas para outros mundos (“O Coveiro e a Caveira”). De outro lado, máquinas de caráter antropomorfizado (“O Aviãozinho que Tinha Medo de Voar”) revelam maneiras originais de encarar os acidentes, problemas e prodígios deste mundo. Com narrações que mesclam uma suave anarquia e gosto acentuado pela elaboração com palavras, em construções bastante musicais, Gil Veloso contou com a interpretação em imagens do jovem ilustrador Daniel Lourenço, que também mesclou, em suas colaborações, estilos dirigidos a diferentes faixas etárias. Temos assim, no volume, ilustrações em estila realista ao lado de outras com jeito de animação e grafitti.
Assim como no livro anterior de Veloso, Fábulas Farsas, vale para o caráter de Travessuras a apreciação do sociólogo e filósofo Laymert Garcia dos Santos: “Histórias aparentemente simples e, no entanto, repletas de reviravoltas, ciladas, situações cômicas, banalidades expressas de modo rebuscado, maldades misturadas a simplicidades, tudo numa linguagem aceleradíssima e cortante”.