Um Brasileiro em terras Portuguesas é um livro fundamental para o conhecimento do lusotropicalismo tal como foi sistematizado pelo seu autor no início da década de 1950. Porém, à semelhança dos restantes textos explicitamente lusotropicais de Gilberto Freyre, é pouco conhecido dentro e fora do Brasil.
Em Portugal, o lusotropicalismo é sobretudo glosado em segunda ou terceira mão. O que circula na opinião pública, no discurso político e até nos meios acadêmicos é uma “vulgata lusotropical” que começou a ser produzida pelo Estado Novo para legitimação do colonialismo português.
No prefácio a Um Brasileiro…, tal como havia feito na conferência lida em Coimbra, Freyre confessa que na viagem sentiu confirmar-se uma “intuição antiga”: “existe no Mundo um complexo social, ecológico e de cultura, que pode ser caracterizado como ‘lusotropical’”; um complexo em expansão, desde que “as nações lusotropicais [não] se deixem envolver por alguma retardatária ou arcaica mística arianista, antes se entreguem com uma audácia cada dia maior à aventura de se desenvolverem em povos de cor, para neles e em gentes mestiças, e não apenas brancas, sobreviverem os melhores valores portugueses e cristãos de cultura num Mundo porventura mais livre de preconceitos de raça, de casta e de classe que o atual”.