A história cômica de Anfitrião é aproveitada por inúmeros dramaturgos, desde a Antigüidade, e o exemplar mais antigo que se conhece é de Plauto. O deus Júpiter, desejando possuir a mortal Alcmena, assume a identidade de seu marido, o general Anfitrião, e, na companhia de Mercúrio, por sua vez disfarçado de Sósia, o servo do general, entra na casa da mulher um dia antes de Anfitrião voltar da guerra. Na maioria dos textos, a chave de comicidade consiste na série de mal-entendidos provocados com a volta do verdadeiro general, principalmente em cenas como a do encontro entre o falso Sósia e o verdadeiro.
Em Um Deus Dormiu Lá em Casa, Guilherme Figueiredo modifica o enredo original ao eliminar as personagens Júpiter e Mercúrio: o espectador vê apenas Anfitrião, que, ao voltar da guerra, para testar a fidelidade de sua esposa, se apresenta a ela como a encarnação de Júpiter sob a aparência humana de Anfitrião. A comicidade é mantida pelo jogo de enganos: Anfitrião pensa que engana Alcmena, que, desde o início, percebe o estratagema do marido. Esta opção conduz a linguagem a uma perspectiva eminentemente realista, uma vez que os espectadores têm o mesmo ponto de vista de Alcmena, isto é, só vêem o que é humano.
Artes / Drama