Mais de vinte anos antes do atual movimento ateísta, o astrofísico Carl Sagan questionava a visão tradicional de Deus num tom bem-humorado, de sólidas bases científicas, nas Palestras Gifford, promovidas pela Universidade de Glasgow em 1985 para discutir a "teologia natural". A relevância do tema na atualidade, marcada pelo extremismo religioso de todos os matizes, fez com que sua viúva e colaboradora Ann Druyan recuperasse as transcrições perdidas das conferências e as transformasse no livro Variedades da experiência científica: uma visão pessoal da busca por Deus.
Como grande divulgador da ciência, Sagan tinha o dom de falar simples, mesmo se estivesse explicando mecânica quântica. Nas palestras, ressalta a predisposição do ser humano para acreditar nas coisas e relata equívocos históricos como a descrição dos enormes canais de Marte, no início do século XX.
Mesmo refutando a visão de Deus como um "homem grande de barbas brancas e compridas sentado num trono no céu e controlando o vôo de cada andorinha", o astrônomo não descarta a existência de alguma forma de inteligência superior, e abre uma detalhada discussão sobre a inteligência extraterrestre.
Ao contrário dos líderes do movimento ateísta, Sagan não menospreza toda e qualquer forma de religião. Para ele, as religiões podem desempenhar o útil papel de orientar o comportamento humano. O que critica é o fato de elas fazerem afirmações sobre ciência sem usar o método científico do ceticismo e da autocorreção.
Segundo sua viúva, Ann Druyan, organizar a edição das palestras ofereceu-lhe a "maravilhosa impressão de que havíamos de alguma maneira sido transportados de volta para as duas sublimes décadas em que pensávamos e escrevíamos juntos". Variedades da experiência científica estende ao leitor a oportunidade de voltar a aprender com Sagan, um homem que foi, em sua própria descrição, um cidadão do cosmos.
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