Nos contos breves de A cidade ilhada, Milton Hatoum lança seus personagens num vaivém incessante e vertiginoso, vivido ou apenas imaginado, entre Paris e Bangcoc, Barcelona e Berkeley, em meio a desencontros, exílios, fantasmas da família e da província. Inclui o conto O adeus do comandante, que inspirou o filme O rio do desejo.
Relances da experiência vivida, recolhidos em tramas brevíssimas, de dicção enxuta em que tudo ganha nitidez máxima e máximo poder de iluminação - assim são as histórias que Milton Hatoum reuniu em seu primeiro volume de contos, A cidade ilhada.
As sementes das histórias de Hatoum não poderiam ser mais diversas: a primeira visita a um bordel em Varandas da Eva; uma passagem de Euclides da Cunha em Uma carta de Bancroft; a vida de exilados em Bárbara no inverno ou Encontros na península; o amor platônico por uma inglesinha em Uma estrangeira da nossa rua. Com mão discreta e madura, Hatoum trabalha esses fragmentos da memória até que adquiram outro caráter: frutos do acaso e da biografia pessoal, eles afinal se mostram como imagens exemplares do curso de nossos desejos e fracassos.
Desejos e fracassos, aliás, respondem pela rede subterrânea que amarra os contos de A cidade ilhada. Se o desejo, a literatura ou a viagem levam os personagens a expandir o raio de sua ação e a transpor as barreiras da infância e da moral, da classe e da província, estes mesmos elementos não se dão por vencidos e, mais cedo ou mais tarde, recaem sobre os heróis como uma fatalidade que os traz de volta a um centro imóvel: "para onde vou, Manaus me persegue".
Contos / Ficção / Literatura Brasileira