Numa primeira abordagem, o primeiro livro de Gustavo Corção aparece como uma espécie de autobiografia espiritual. O autor descreve os passos de sua conversão, ou se preferirem, de sua volta ao catolicismo. Porém, uma leitura mais atenta nos mostra que este livro se situa num plano mais profundo e sério. Depois de descrever diversas situações que marcaram seu itinerário em direção à fé, Corção analisa, com uma inteligência aguda e particular, os meandros da alma na busca da verdade. Mostra ao leitor o quanto vivemos mergulhados em vícios intelectuais que nos impedem de sermos verdadeiros e objetivos; o quanto somos apegados às nossas próprias opiniões, e o quanto isto nos cega diante da grande realidade que é a Cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo e seu amor por nós. O autor procura nos ajudar a harmonizar nossa vida racional para que estejamos aptos a alcançar de Deus a harmonia sobrenatural, divina.
De certa forma este livro estará presente em toda a obra literária de Gustavo Corção. Ele é uma espécie de marco inicial, mas já carregado de genialidade literária e de grande sabedoria espiritual. «Quando este escritor veio à tona, – escreve Josué Montelo em artigo de 1987 – não precisou aprender o seu ofício diante do público. Já trazia um estilo, um cabedal de idéias, uma visão do mundo que de pronto ajustou à singularidade de sua prosa muito pessoal. Não se parecia com ninguém. Era ele mesmo, sem deixar de ajustar-se à índole e à tradição da língua portuguesa».