Ainda que tenha raiz biográfica, uma obra literária de qualidade ultrapassa sempre os limites do indivíduo que a criou e vai aninhar-se em uma dimensão mais ampla. É esta articulação entre o individual e o coletivo, entre o pessoal e o social que Pedro Barbosa assinala, em comovente testemunho, ao referir-se ao primeiro título da série - A Droga da Obediência - como "uma metáfora que protestava contra a ditadura militar na qual eu vivi toda a minha vida de jovem adulto. O golpe militar ocorreu quando eu acabara de fazer 22 anos e só iria terminar em 1985, depois que eu tivesse feito 43."
Como o depoimento acima manifesta, o autor sabe apontar, com grande precisão, possíveis articulações de sua obra com o momento político que o Brasil viveu nos anos que antecederam a publicação do livro (1984).
O repúdio à censura, o horror a qualquer tipo de violência, a lembrança das pessoas presas e desaparecidas tiveram, sem dúvida, parte grande na matéria que fecunda o misterioso momento da criação das histórias dos Karas. Talvez se deva a esta sábia mistura entre o individual e o coletivo, que há mais de vinte anos a turma dos Karas - Miguel, Calu, Crânio, Magrí e Chumbinho - alimente o desejo de aventura, o entusiasmo pela vida e a crença nos jovens que são a marca de bons livros infantis e juvenis.
A expressão que define a turma - o avesso dos coroas, o contrário dos caretas - tem apelo forte para um público jovem ao frisar o caráter contestador e ousado dos heróis das histórias, exemplares do contagioso protagonismo da juventude.
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