Em 20 de outubro de 1846, Dostoiévski escrevia a seu irmão: "todos os meus planos foram por água abaixo e ruíram por si mesmos... Abandonei tudo (que estava escrevendo), já que isso não passava de uma repetição de coisas velhas. Agora ideias mais originais, vivas e luminosas brotam de mim no papel... Estou escrevendo outra novela, e o trabalho vai de vento em popa, está saindo com facilidade e frescor, como nunca...".
A novela a que Dostoiévski se referia com tamanho entusiasmo era "A Senhoria", que viria à luz no ano seguinte. Ao contrário de suas expectativas, entretanto, Bielínski - o mais influente crítico literário da época - tratou a obra como um disparate, fruto da fantasia mirabolante do autor. De fato, as inovações que Dostoiévski introduziu com relação ao foco narrativo - bem como a trama que liga o intelectual e sonhador Ordínov à figura misteriosa de Katierina - permaneceram totalmente incompreendidas em seu tempo.
Só no século XX, uma nova geração de leitores iria reconhecer neste livro, escrito quando o autor tinha 26 anos, uma obra-prima que antecipa 'Memórias do Subsolo' (1864) e seus grandes romances da maturidade. Pela primeira vez em tradução direta do russo, 'A Senhoria' conta, nesta edição, com 14 xilogravuras de Paulo Penna e um esclarecedor posfácio de Fátima Bianchi, no qual a tradutora reconstitui o conturbado ambiente literário da época, destacando a atualidade da contribuição de Dostoiévski.
Ficção / Literatura Estrangeira