Com mais de 180 quilos e o conhecido figurino dos lutadores mexicanos de luta livre, com meia-calças e misteriosas máscaras, El Borbah é tudo aquilo que não esperamos de um detetive particular. Movido a junkie food e canecos e mais canecos de cerveja, ele conduz suas investigações com papo reto e temperamento explosivo, quebrando portas e crânios, enquanto espreita a cidade decadente, repleta de punks, freaks, malucos de ternos e cientistas loucos.
Um dos primeiros personagens criados por Charles Burns, ainda no início do anos 1980, as histórias desse improvável detetive permanecem assustadoramente contemporâneas, com a estética “sci-fi-noir”, alimentada pelo consumo voraz de filmes B e quadrinhos de terror dos anos 1950 e 1960 na infância do autor, e um sofisticado senso de humor tão inquietante quanto engraçado — algo que já vimos em outros clássicos trabalhos seus, como na obra-prima Black Hole e na coletânea Big Baby, ambas publicadas pela DarkSide® Books.
El Borbah reúne cinco histórias, três delas publicadas ainda nos anos 1980 pelas revistas RAW, de Art Spiegelman (autor de Maus) e Françoise Molly, e a consagrada Heavy Metal. E outras duas narrativas inéditas, reunidas em livro pela RAW/Pantheon Books
em 1988 com o título Hard-Boiled Defective Stories. A edição brasileira é baseada no livro publicado pela Fantagraphics em 1999, acrescido de um epílogo inédito do autor com imagens raras, esboços e capas publicadas em outros países.
“Amor Robô” apresenta o detetive e o insere neste mundo que começa a ser
comandado pelas máquinas, isso ainda em 1982. Em “Carne Morta”, enquanto
investiga o desaparecimento de uma mulher, ele se depara com uma peculiar empresa de processamento de carne. “Vivendo na Era do Gelo” apresenta as bizarrices em um mundo em que a criogenia virou lugar comum. E ainda temos histórias sobre uma seita nada convencional e sobre um pai preocupado com o filho perseguido. Em todas elas, o universo peculiar e esquisito, com pessoas clonadas, clubes para ricos pervertidos, megalomaníacos que planejam dominar o mundo se aliam ao traço e ao preto e branco magistral do autor para narrar histórias que retratam como poucas os sombrios anos 1980 — mas, de maneira espantosa, falam também sobre o não menos tenebroso século XXI. Chegou a hora de conhecer as origens da mente prodigiosa e sombria de um dos monstros do quadrinho mundial.
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