existir é uma tarefa aflitiva às vezes, porque há um exagero de coisas no mundo disponíveis para compreender e experimentar, mas a condição humana impõe limites muito claros ao seu acesso. “eu quero a árvore que existe” é uma coletânea de cinco ensaios que representam diferentes facetas dessa ânsia de descobrir e desfrutar da realidade.
cada escrito é uma reflexão que poderiam ter surgido numa madrugada silenciosa sob a luz das estrelas ou numa barulhenta mesa de bar. em tom poético e dialogal, são discutidos temas como o desconforto diante da efemeridade da vida, o papel do trabalho na busca pelo contentamento, o antagonismo entre a ciência e a poesia, o surgimento dos desejos e das paixões e a mudança de perspectiva que ocorre entre a infância, a adolescência e a vida adulta.
é um livro que fala de “estrelas e de árvores, de riachos gelados que correm no passado, de muros brancos cobertos de tinta, de adolescência e de araras azuis, de trens sonolentos às cinco da manhã, de deuses e truques de mágica”, e tantas outras coisas que emolduram a aventura aberrante que é estar vivo.
“a realidade é o que é, pouco importa pra ela como eu a veja... mas importa pra mim como eu a vejo. sou eu, e somente eu, a única pessoa capaz de vigiar o impacto do mundo real sobre a minha própria existência. posso me postar diante da árvore a admirá-la enquanto ela existe, ou posso me postar diante dela com pesar pela falta que ela me fará amanhã. ninguém pode decidir por mim qual dos dois cenários se concretizará, só eu, e nem sempre tomo a decisão certa. peco, peco e peco novamente. mas não me constranjo, porque aceito minha irremediável natureza de pecadora, e porque os seres humanos riem, tomam sorvete de caramelo salgado e criam filhos, e porque as amoreiras crescem e medem o tempo com seu caule, e porque às vezes eu olho pro céu de madrugada e não vejo nada além de estrelas que existem. e sobretudo porque, no breve instante em que as observo cintilando em silêncio, sem nada me perguntar, todos os meus pecados são perdoados.”
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