Já tinha aparecido antes, o medo. Tinha olhado a Naia diretamente. Porém, ela teve dificuldade em sustentar aquele olhar feroz e fechou os olhos. E, o medo fugiu. Mas, agora, a Naia quer compreendê-lo. Então, visita o Oráculo:
‒ Oráculo, vi a fera que destruiu o mundo. Como posso ir ao encontro dela se, na verdade, estou a fugir?
‒ Foge, Naia! Será o mesmo, o medo seguirá o seu rumo. A certa altura, verás que, sem querer, corres atrás dele.
O medo não tem presa, porque ele apenas aparenta. A Naia, ouvindo o Oráculo, deixa de fugir. Permanece em casa mais tranquila, também porque imaginou o medo a prosseguir o seu caminho. Talvez tenha descido a escarpa, saltando de pedra em pedra. E, hesitando sobre o seu propósito, diz ao Oráculo:
‒ Oráculo, quando me sentir preparada, verei por onde anda o medo!
‒ Naia, a tua intenção de compreendê-lo já o libertou. Ele voltará para casa!
A meio da noite, a Naia recorda as palavras do Oráculo. Levanta-se, encaminha-se para a porta, abre-a e sai para o exterior. E, descobre, com surpresa, que o medo dorme sobre o telhado, ocupando toda a superfície. Adormecido, a sua ferocidade distrativa desaparece. A Naia observa-o. O medo é uma criatura lendária, o seu corpo é a ancestralidade.
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