Duas vezes em meados do século XVI, o mercenário e arcabuzeiro alemão Hans Staden (c.1524-c1576) aportou nas costas do recém-descoberto Brasil. A primeira, em 1549, passando por Pernambuco e pela Paraíba; e a segunda, em 1550, quando chegou na ilha de Santa Catarina, dirigindo-se posteriormente à capitania de São Vicente, no litoral sul do atual estado de São Paulo. Na segunda viagem, como viera a bordo de um navio espanhol, foi preso pelo governador-geral, o português Tomé de Sousa, e em seguida capturado pelos índios tamoios, inimigos dos tupiniquins e dos portugueses e aliados dos franceses. O jovem Staden viveu para contar o que viu: paisagens virgens, riquezas inexploradas e a prática ritual do canibalismo, do qual por muito pouco não foi vítima. O livro com o seu relato foi publicado em 1557, em Marburgo, Alemanha, ilustrado por xilogravuras anônimas (aqui reproduzidas) baseadas nas suas descrições, e imediatamente tornou-se um "best-seller" em toda a Europa. Trata-se da mais acurada e impressionante descrição do banquete antropofágico - o festim canibal praticado pelos povos Tupi. É, também (junto à "Carta de Pero Vaz de Caminha") uma das primeiríssimas reportagens realizadas sobre os povos que viviam no que viria a ser o Brasil, um eletrizante relato feito por, como diz Eduardo Bueno na introdução, "um estrangeiro em um mundo estranho".
Com um estilo coloquial e direto, eis um livro soberbo e necessário, fundamental para a cultura brasileira.
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