A internet faz renascer o sonho de universalidade no qual toda a humanidade participa do intercâmbio de ideias. Mas suscita também a angústia de ver desaparecer a cultura do livro. Qual é o futuro do livro? O que nos ensina seu passado? Roger Chartier nos lembra que muitas revoluções, dentre as quais a de Gutenberg, vividas como ameaças, criaram, pelo contrário, oportunidades e esperanças. Ele mostra por que a história do livro é inseparável dos gestos violentos que o reprimem, dos autos-de-fé à censura, mas, também, como a força do escrito tornou tragicamente derrisória está obscura vontade. Assim, a negação da figura do autor conduziu, por fim, ao reconhecimento de seus direitos, colocados hoje novamente em questão pela imaterialidade do texto eletrônico. Nesta evocação do jogo de papéis entre autor, leitor, editor e suportes técnicos do escrito, Roger Chartier nos preserva tanto faz nostalgia conservadora como da utopia ingênua. Pois refletir sobre a aventura do livro é, em definitivo, examinar a tensão fundamental que atravessa o mundo contemporâneo, dilacerado entre a afirmação das particularidades e o desejo do universal.