A tarefa mais importante com a qual se defronta a liderança brasileira consiste em
retomar os laços com o pensamento liberal dos principais países. Desde o seu nascedouro até
mais ou menos os anos trinta, mantivemos estreito contato com a temática e os autores
liberais destacados. A partir de então o ideário patrimonialista tradicional assumiu feição
socialista e ocupou todos os espaços e os postos relevantes da cultura. De seu largo
predomínio, durante cerca de meio século, resultou a virtual esterilização das mentalidades,
cujo patrimônio intelectual reduz-se hoje a meia dúzia de lugares comuns. Apanhados de
surpresa com o fim da experiência socialista européia, teimam em desconhecer a
obsolescência do marxismo. Assim, a linha de frente de nossa intelectualidade está
completamente perdida. voltada e devotada ao passado e às suas proposta ultrapassadas.
Somente o liberalismo tem algo a dizer à nossa juventude e às gerações do futuro.
Entretanto, para que essa possibilidade venha a concretizar-se, é necessário recompor
aqueles laços desfeitos. E contrapor-se à tendência, que já se insinua abertamente, de alardear
que o liberalismo é uma espécie de liberdade interior, em franca disponibilidade, quando se
trata de uma doutrina sólida, com autores reconhecidos e temática própria.
Como uma contribuição no sentido de colocar as coisas no seu devido lugar, os
fundadores da Sociedade Tocqueville, entre os quais me incluo, publicamos Evolução
histórica do liberalismo (Itatiaia, 1987), livro no qual estão estudados os principais autores
liberais, desde Locke e Kant, bem como os grande ciclos do movimento liberal. Naquela
oportunidade, assumimos o compromisso de dar continuidade à investigação, caracterizando
devidamente as duas vertentes em que se divide: o liberalismo social e o liberalismo
conservador, bem como as questões atuais básicas. Ao publicar O liberalismo contemporâneo
procuro dar conta daquele compromisso.