Num divã de analista, no Rio de Janeiro, uma mulher discorre sobre suas relações afetivas com os homens. Em Frankfurt, um homem tem um caso com uma estudante de antropologia. Aparentemente desconectadas, as histórias desses dois personagens aos poucos se unem neste surpreendente romance de estreia.
Num divã de analista, no Rio de Janeiro, Laura fala de sua relação com um homem casado e com um estranho que conheceu numa sessão de cinema. Muito longe dali, em Frankfurt, o latino-americano Javier tem um caso com uma estudante de antropologia chamada Ulrike. Conforme o livro se desenrola episódios aparentemente desconectados vão tecendo uma surpreendente trama de encontros e desencontros amorosos, o mote deste excelente romance de estreia.
"É um livro do estilo modelo para armar, cujas peças são fragmentos, aspectos, versões de uma história que cabe ao leitor reconstruir", diz a autora. Para tanto, é preciso ler as entrelinhas das diferentes vozes que compõem o mosaico, principalmente as de Laura e Javier. Enquanto a dela é apaixonada e dispersa, recheada de pistas fragmentadas que o analista ajuda a decifrar - como a relação com o homem casado, e sonhos que podem guardar um significado sombrio - , a dele é racional e melancólica, detalhista em suas descrições do cotidiano num país estranho, em meio a uma cultura - a de Ulrike e seus amigos politicamente corretos - que não tem paciência para aceitar. "Os narradores, nem sempre confiáveis, com frequência mentem, distorcem ou deixam de lado informações importantes", explica Saavedra. "Não raro, é justamente isso que vai ser um ponto chave, revelando muito mais sobre o personagem do que aquilo que ele acaba de narrar."
Toda terça, em que se alternam drama e um sutil senso de comédia, é um retrato de como essas personalidades, ou ao menos suas versões externas, são construídas no mundo contemporâneo. Um mundo cheio de barreiras econômicas e sociais, desencantado com a perda dos grandes ideais coletivos, mas com caminhos ainda abertos para quem busca, mesmo de forma pouco convencional, o conforto dos afetos possíveis.