Augusto 06/03/2018RESENHA - A Última MúsicaA protagonista do livro é Ronnie, uma adolescente que deixou de falar com o pai, Steve, desde que ele abandonou a família aparentemente sem maiores explicações. Ele é um pianista talentoso, mas desistiu da carreira e foi viver tranquilamente na Carolina do Norte. Entretanto, naquele verão, ela e seu irmão mais novo (Jonah) acabam indo passar as férias com Steve, depois de muita insistência da mãe dos dois. E nessas férias, a vida de todos eles acaba mudando drasticamente.
Ronnie começa sendo uma personagem bastante irritante. Ela me soou como uma ?aborrecente? mimada, rejeitando o piano ? instrumento para o qual ela também era muitíssimo talentosa ? e fazendo de tudo para provocar e contrariar o pai. Jonah, entretanto, é o oposto: uma criança afetuosa e aberta a todas as possibilidades que a presença de Steve oferece. Entretanto, com o passar dos capítulos, o leitor consegue compreender a mágoa e a dor que a protagonista sente em relação ao pai, que se ausentou repentinamente da vida da família sem maiores explicações. E até então Ronnie não tinha sido capaz de conversar abertamente com ele sobre isso, pois a raiva e a revolta eram predominantes.
Além do relacionamento com o pai, somos apresentados a outros núcleos de personagens. Ronnie conhece Will, um garoto muito popular na cidade e pelo qual ela se apaixona, sendo correspondida. Ambos têm interesses em comum e o desejo de proteger as tartarugas marinhas que utilizam a praia para colocar seus ovos acaba por uni-los. Will é um personagem cativante, que teve de passar por tragédias familiares bastante dolorosas. Ele e seu melhor amigo escondem um segredo envolvendo o incêndio ocorrido na igreja local, que culminou na destruição de boa parte da mesma e que Steve está ajudando a consertar confeccionando um novo vitral. Outro núcleo de personagens é o de Blaze e Marcus, um casal que Ronnie conhece logo em seus primeiros dias na praia. Blaze se torna amiga de Ronnie, mas, por ciúme de Marcus, acaba traindo a confiança da garota e colocando-a em situações problemáticas com a polícia local. Marcus, por sua vez, é um jovem de caráter duvidoso com tendências piromaníacas que, após ser rejeitado por Ronnie, passa a aterrorizar a garota sempre que pode.
O romance entre Ronnie e Will, apesar de ser interessante, de ter conflitos e de mostrar amadurecimento, não é o enfoque do livro. Para mim, o que mais valorizo em A Última Música é o crescimento pessoal de Ronnie e do relacionamento dela com o pai. Ao longo das férias de verão, Ronnie passa a conviver com Steve e perceber quão altruísta e generoso seu pai é. Além de ajudar na reconstrução do vitral da igreja, Steve passa o tempo todo se dedicando aos filhos e à música, e Ronnie percebe isso. Graças à narrativa dada por diferentes perspectivas, sabemos o que se passa na cabeça de Ronnie e também na cabeça de Steve. Descobrimos o real motivo pelo qual ele saiu de casa e também porque fez questão que os filhos fossem visitá-lo naquele verão. Enquanto isso, somos capazes de perceber o amadurecimento de Ronnie e a mudança na opinião dela sobre o pai. Uma protagonista que inicia o livro com uma personalidade infantil e emocionalmente desequilibrada torna-se uma jovem forte e decidida, fazendo de tudo para ver os sonhos do pai realizados ? o que inclui tanto o vitral da igreja quanto a composição de uma música que ele nunca teve inspiração para terminar.
?Às vezes você tem que estar longe das pessoas que você ama, mas isso não faz com que você as ame menos. Às vezes faz que você as ame mais.?