Ogaiht 12/02/2024
Completamente Equivocado
Como as pessoas são extremamente emotivas e usam mais o coração que a razão ao emitirem uma opinião é necessário fazer a seguinte observação: criticar negativamente um livro sobre qualquer tipo de racismo não faz dessa pessoa racista e nem significa que essa pessoa negue a existência de tal prática. Dito isso vamos a análise deste livro. O preconceito linguístico é um fato, pois o preconceito é inerente ao ser humano. Sabemos que certas variações linguísticas possuem mais prestígio que outras por várias razões sejam elas políticas, econômicas ou culturais. Também é fato que a escravidão marcou profundamente a sociedade brasileira e seus danos são sentidos até hoje.
Porém este livro, que nada mais é do que uma das várias crias do pós-modernismo que se espalhou nas universidades e agora nas mídias falha em defender sua proposta. Basicamente, o argumento é que norma culta padrão do português brasileiro nada mais é do que uma variante falada exclusivamente pelos brancos e que seria usada como instrumento de opressão às populações não brancas. Ele também acusa essa versão da língua de ser como os brancos veem o mundo e, portanto, é incompatível com a maneira que os não brancos vivem. Mas a verdade é que ele não mostra nenhum argumento concreto que prove isso! Ele chega a citar uma lista de expressões com a palavras negro/preto que seria negativas como humor negro (absurdo!) e o bom é velho denegrir. Parece que o autor ignora que as palavras podem mudar de significado com o tempo, e algumas que possuíam significados depreciativos podem perdê-los com tempo, algo que ocorre em todas as línguas.
O autor também questiona o porquê de formas como ?nós vai? não possui o mesmo status de ?nós vamos?, sendo a primeira forma muito utilizada pelos escravos e hoje usada em contextos mais informais. Uma coisa é respeitar as variantes e não recriminar os falantes que as usam mas toda língua precisa de uma forma culta padrão para que haja comunicabilidade entre todos os seus falantes. O Brasil é um país imenso com mais de 200 milhões de habitantes e inúmeras variações. Como ficaria a comunicação se cada um falasse a língua como bem entender? Claro que isso se refere a um contexto mais profissional e acadêmico. É curioso que autor, que também é negro, ter escrito o livro na forma culta padrão, que segundo ele é a língua do branco opressor.
Ele também questiona o por que as línguas indígenas não tem o mesmo status que o português. Será que o autor não sabe que o Brasil é um raro caso de país onde uma única língua é falada por quase 100% da população? As línguas indígenas são faladas por não mais que 200 mil habitantes. Se usarmos a lógica do autor, teremos que considerar as pequenas comunidades alemãs, polonesas e russas no sul do país. Por causa dessas poucos comunidades também deveríamos defender que o alemão, o polonês e russo se tornem línguas oficiais?
Também é bem hipócrita da parte dele falar que os brancos não entendem a crítica linguística que ele faz, mas seu livro é extremamente influenciado por ideias pós-modernistas de Foucault e Derrida, dois homens, europeus colonizadores e opressões e brancos!
O livro é extremamente contraditório ao ensaiar uma crítica ao pós-modernismo e ao estruturalismo mas é profundamente baseado nas teorias críticas de raça e neocolonialistas, que nada mais são do que crias do pós-modernismo. O livro parece que seguiu todos os dogmas dessa filosofia como quando fazemos uma receita de bolo. E por último, não poderia deixar de citar a boa, velha e desonesta ideia que o livro cita de que quando brancos não veem os não brancos pela cor é resultado de seu privilégio e ainda sim um tipo de racismo. É uma armadilha impossível de se fugir, porque se eles virem a cor do outro também seriam considerados racistas. O que os seguidores dessa seita não entendem é que quanto mais eles defenderem essa visão de mundo, mais eles incentivarão as divisões na sociedade. Mas parece que é exatamente isso que eles querem, cada um em seu quadrado.
Concluindo, acho esse livro um desserviço, e fico muito preocupado pelas faculdades de Letras estarem investindo tempo e recursos nessas linhas de pesquisa. A língua por ser usada sim para expressar preconceitos e atitudes preconceituosas devem ser combatidas, mas problematizar picuinhas mais atrapalha do que ajuda essa causa tão nobre que é a luta contra o racismo.