Portal Caneca 04/09/2014
Escritor fracassado, David Martín perdeu o pai ainda criança. Tocado pela história, é então “adotado” por um dono de jornal para quem passa a trabalhar num. A aspiração de romancista, no entanto, não acabou por aí.
Após alguns anos no “La industria”, David teve enfim uma oportunidade de fazer aquilo que sempre almejou: ser pago para escrever. Uma dupla de empreendedores donos de uma editora, pagam para nosso jovem sonhador escrever, ainda que sob um pseudônimo. David Martin passa a ser então, Ignatus B., que viria a ser muito conhecido pela serie de livros “A cidade dos malditos”, uma série assustadora de mistérios. Com o tempo, e vendas relativas dos romances, o contrato de dedicação exclusiva à editora permitiu Martin realizar seu antigo sonho: comprar um antigo casarão numa zona isolada da cidade. Deserta e imensa, o lugar era dotado de antigas histórias, bem como algumas particularidades assustadoras.
Na evolução de sua carreira, David se viu em diversos dilemas: ser pago para escrever pura e simplesmente ou passar a escrever o que gostaria de fato? Em meio a essas questões, jogos de amor e perigo não ficam de fora. Somente pela narrativa particularmente seduzente de Zafón vamos, aos poucos, conhecendo amigos e a cidade de Barcelona na atmosfera pré-guerra. Em meio a este cenário, passamos a conhecer a simpática livraria “Sempere & Filhos”.
A vida do então escritor muda completamente ao conhecer uma sombria figura que viria a se tornar seu patrão: Andreas Corelli. Representado sempre pela figura de um misterioso anjo, Andreas tem uma missão que, segundo ele, só pode ser cumprida por David. Extremamente rico, o patrão diz ser capaz de resolver todos os problemas do escritor, incluindo o financeiro e seu contrato com a dupla de pilantras. Ainda que receoso, Davíd não pode esconder a perspectiva sedutora da proposta aparentemente insana de seu patrão e, tendo em perspectivas poder finalmente escrever algo que teria orgulho, bem como nunca mais se preocupar com dinheiro, ele aceita. Sua missão: criar uma religião.
Popular e reconhecida genialidade de Carlos Ruiz Zafón marca forte presença nessa obra. Uma gama de personagens muito amáveis e unidos das maneiras mais impensáveis, somos laçados pela narrativa e consumidos pelo livro até o fim - considerando então o fim do livro como o fim da história.
A trama é aguçada ainda mais com alguns pontos-chave que surgem: ao visitar o Cemitério de Livros Esquecidos apresentado pelo Sr. Sempere, David resgata do esquecimento eterno um exemplar sinistro de “Lux Aeterna”, o autor tem suas próprias iniciais: D.M. Não obstante o número sinistro de coincidências, o livro era uma verdadeira narrativa mitológica beirando à um tipo de bíblia e (se me permitem um pequeno spoiler inofensivo para aguçar ainda mais a sede de leitura), após uma simples verificação David descobre que aquele tal livro enterrado no coração de Barcelona foi escrito pela mesma máquina de escrever que ele utilizava para dar conta da encomenda de Andreas: seu falecido autor morou na mesma casa que ele então habita.
Ainda que grande fã e admirador da obra de Zafón e, portanto, levemente suspeito para falar: sei reconhecer quando uma história é bem escrita e elaborada e, acreditem quando digo, que esta o é.
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