Taize @viagemliteral 07/05/2020
A autora Lauren Kate, que ganhou fama em todo o mundo com a famigerada série Fallen, trouxe para nós leitores, seu primeiro romance adulto sendo ambientado na Veneza do século XVIII, contando a história de órfãos que viviam no Incuráveis, um hospital que fora convertido em orfanato para receber as diversas crianças que eram deixadas ali à mercê da sorte.
"Esta história começa em um orfanato, em uma noite solitária no bairro sonolento de Dorsoduro. Lá, na ala dos enjeitados, uma menina de 5 anos estava deitada na cama, planejando sua fuga."
Em "A canção da órfã", ganham destaque dois personagens totalmente diferentes um do outro, mas que de alguma forma de complementam: Violetta, a soprano e Mino, o violinista. Ela, que se destacava pela sua impetuosidade e desejo de ser livre dos muros do tão rigoroso orfanato, o outro por ser bondoso, obediente e querer sua liberdade, mas não para provar os sabores da vida, mas para encontrar sua mãe, aquela que tem todo o seu amor, mesmo não tendo tantas lembranças de quando era aquecido por seu colo. Mas, uma coisa os tornavam iguais: o amor pela música!
"A vida era como a música; se você mudasse uma única nota, mudaria a canção inteira."
No orfanato de regras tão restritas, pavilhões de meninos e meninas eram separados. As meninas, desde muito novas, eram enviadas para as aulas de música, todas sonhando em um dia alcançar o lugar de corista na igreja, mesmo que isso restringisse suas apresentações a apenas a casa do Senhor. Caso não tivesse talento para garantir a vaga no coro, o destino seria cuidar dos sifilíticos e ter uma vida fadada a solidão. Já os meninos eram libertados mais novos, podendo sair, trabalhar, constituir uma família e ter sua independência.
As saídas pelas ruas de Veneza eram raras, e mesmo assim, sempre sob o olhar rigoroso da abadessa. Todas essas ordens eram demais para o espírito livre e o temperamento forte de Violetta, que desde criancinha já fugia para lugares onde poderia apreciar a vida fora dos muros dos Incuráveis.
"Ela nunca pararia de desejar sempre mais? Seu maior sonho era viver livre em algum lugar. Ainda era difícil visualizar esse lugar, mas, quando apertava a opala negra, Violetta quase o sentia."
Certo dia, ao subir para o telhado do orfanato a fim de apreciar a vista da cidade, do carnavalle e de todas aquelas pessoas mascaradas pelas ruas de Veneza, a soprano ganhou uma companhia: Mino, o violinista que se tornou seu grande amigo, e seu amor. Entretanto, o destino fora traçado de forma impiedosa, e tudo que construíram sob o telhado do lugar que chamavam de lar, tomaram rumos totalmente opostos.
"No telhado, os dois falavam uma língua secreta feita de música. Porém estavam mais velhos agora, tão diferentes dos órfãos que haviam sido um dia."
Um dos aspectos mais marcantes e positivos do livro é a ambientação. Veneza é um lugar lindo, digno de muitas histórias de amor. O carnavalle e seus mistérios, deram uma cor a mais em toda a trama, que inicialmente teve sua descrição tão envolvente que fora impossível não me sentir caminhando pelas ruas de Veneza, entretanto, no decorrer do livro, tais descrições se tornaram repetitivas tornando a leitura um tanto cansativa, e com passagens de tempo muito abruptas, nos fazendo em alguns momentos, não saber se passou um dia ou um ano.
Mas, "não existe o bom sem defeito, nem o ruim sem qualidade", não é? De um modo geral, é uma leitura que, no fim das contas nos prende e nos faz ansiar para saber o desfecho de todo o drama vivido por Violetta e Mino, eles que, apesar de sofrerem grandes transformações, viverem tragédias e paixões, nos transportam para um lugar onde, apesar de todos os males, o amor e a esperança se sobressaem.
"Por anos, os dois haviam cultivado aquela música dentro de si. Agora era quase possível ver a canção entrando no mundo. Ela fora libertada, uma força física, uma mudança súbita na luz e no céu."