Clube do Farol 12/10/2022
Resenha por Elis Finco @efinco
Olá, faroleiros. Hoje é dia de escrever sobre a leitura de uma releitura. Um novo olhar sobre os contos de fadas que nos contaram quando éramos novos demais para entender além da primeira moral, e que agora talvez sejamos velhos demais para ler sem nos questionar sobre as verdades escondidas entre as linhas e todo o pó de fadas e magia. Mas nem tudo precisa ser tirado nesse processo e por isso as ilustrações e a belíssima edição nos recordam que nunca deixaremos de olhar uma história com a mesma fascinação da infância, porque é onde reside nossa capacidade de acreditar, que talvez em algum lugar essas histórias foram reais, mesmo que esse lugar seja a criatividade de quem a escreveu.
A coletânea é composta por 11 histórias diferentes e independentes tanto em narrativa, algumas em primeira, outras em terceira pessoa, quanto em tamanho. Enquanto fui lendo, fiz uma divisão em duas partes do livro, porque acabei me encantando mais pela segunda metade do que da primeira. Nessa primeira, ele trouxe uma versão que quebrava a barreira do tempo espaço, misturando a época em que foram escritas e os dias atuais, em uma mistura um tanto quanto absurda e sem dúvida bastante sexualizada, porém, em momento algum de forma gráfica. O tom deste livro acabou em uma mistura perfeita entre o bem-humorado, a crítica e a ironia.
Na segunda metade, os contos são bastante fieis a seus originais, contudo dando fala a personagens que não as tinham ou simplesmente nos fazendo questionar atitudes, situações e ações que bem analisadas, mostram que foram bastante romantizadas para a narrativa infantil e que, quando colocadas sob a lente da vida adulta, mostram que normalizaram atitudes realmente indesculpáveis. Como a maioria das antologias, essa também tendia a ser um pouco confusa. Diria que a maioria das histórias foram boas ou ótimas e poucas delas eram apenas boas, felizmente essas eram as mais curtas.
Não foram reescritos para serem apenas divertidos ou terem uma nova “lição de moral”, mas sim para serem divertidos, esclarecedores, sombrios e honestos. Neles encontramos o ciúme, desgosto, o nunca estar satisfeito, medo, pena e o amor. Exatamente como a vida adulta, onde o “felizes para sempre” é uma ilusão — quase um truque de mágica —, e como tal encantadora, muito caprichosa, contudo, a perspectiva adulta consegue adicionar humor, ternura e melancolia tão presentes na vida.
O convite é ver os contos depois do "felizes para sempre", quando a mágica acabou, e a “realidade” começaria a acontecer. Como seria para Branca de Neve ser casada com alguém que não se importou de beijar alguém morta em seu caixão? Eu sei que não faltam histórias de contos de fadas publicadas, mas eu acredito que Michael Cunningham fez um trabalho fantástico de humanizar os relacionamentos dessas histórias. O sombrio nos contos é graças a realidade, afinal o que te assusta mais? O fantasma que não existe e deixa de assustar com o simples acender das luzes, ou o que se esconde sob a forma humana e que você pode encontrar nas ruas da vida ou estar ao seu lado dentro de casa?
Agora, preciso mesmo falar das ilustrações. Gente, ficaram INCRÍVEIS!! Sério, eu fiquei realmente chocada com o quanto o trabalho em preto e branco trouxe um visual deslumbrante para as histórias. Elas são instigantes, lindas e horripilantes de alguma forma, perfeitas exatamente por serem assim.
A edição, na totalidade, é um presente a quem lê, ortografia, revisão e diagramação deixaram a leitura ainda mais prazerosa e mesmo as folhas brancas contribuíram para o efeito visual lindo do livro. Sério, amei e achei zero defeitos.
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