Nicole Pazzini 24/05/2024
O livro conta a história de Vieltchâninov, um homem já 'velho' (naquela época, com quarenta anos já era considerado velho), que demonstra ser um pouco egocêntrico, grosso e carrasco. A angústia inicial de Vieltchâninov surge quando ele cruza mais de uma vez com um sujeito que usa uma fita de luta, despertando nele uma certa aversão, o fazendo questionar se ele conhecia aquele sujeito, se aquele homem o estava seguindo, qual seria o motivo de o encontrar com certa frequência?
Um dia, Vieltchâninov está em seu apartamento (isso era madrugada, já que o personagem sofre de insônia) e vê pela janela que o sujeito com a fita de luto está em frente ao seu prédio. Neste momento ele passa a recordar, o sujeito em questão é Pávlovich, um amigo que ele não via já fazia nove anos.
Pávlovich surge na porta de Vieltchâninov de madrugada, um tanto confuso. Ele adentra ao apartamento e informa que Natália, sua esposa com o qual Vieltchâninov teve um caso (nove anos antes), faleceu de tuberculose. Claro, Vieltchâninov fica se perguntando o motivo para aquele antigo amigo bater em sua casa aquela hora para lhe informar sobre isso.
Nisso, o personagem relembra o momento em que ele se apaixonou e teve o caso com Natália. No dia seguinte ele vai visitar Pávlovich e descobre que ele não está sozinho, mas sim com Lisa, a filha que ele teve com sua esposa Natália.
Vieltchâninov se encanta com Lisa e surge uma indagação: será que Lisa é filha mesmo de Pávlovich? Será que ele soube do caso que tivera com Natália? O restante do livro reflete muito essa dúvida do personagem.
Ele nutre um amor paternal por Lisa, procurando até estabelecer ela em um local mais apropriado (em um sítio de um casal amigo que possuem filhos). As dúvidas só aumentam quando ele percebe que Pávlovich não é um grande pai, não possui grande importância com o bem-estar de Lisa.
Resumidamente, sem spoiler, é disso que trata essa magnífica obra de Fiodor. Eu gostei MUITO, diria que esse romance é ainda melhor que Noites Brancas para quem nunca leu o autor.
Nesse livro ele desenvolve bem o personagem, indo em questões morais, filosóficas e psicológicas, mas não é tanto como ocorre nas outras obras que eu li, o que não afeta em nada o êxito final da obra e da construção do personagem.
"Na sua opinião, a essência de tais maridos consiste em serem, por assim dizer, "eternos maridos" ou, melhor, serem na vida apenas maridos e mais nada. "Um homem assim nasce e desenvolve-se unicamente para se casar e para, depois do casamento, se tornar imediatamente num apêndice da sua mulher, mesmo no caso de ter um carácter individual incontestável. A principal característica deste marido é um enfeite bem conhecido. Não pode deixar de ser cornudo, do mesmo modo que o sol não pode deixar de brilhar; mas não só nunca sabe disso, como também, de acordo com as leis da própria natureza, é incapaz de sabê-lo."