O eterno marido

O eterno marido Fiódor Dostoiévski




Resenhas - O Eterno Marido


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Eduardo 17/04/2020

"Sim, ele me amava com maldade"
Há gênios que não apreciam todas as suas obras. Assim foi com Leonardo da Vinci e assim foi com Dostoiévski, este último chegando ao ponto de admitir que não havia gostado de O Eterno Marido, opinião não compartilhada por grande parte de seus leitores e especialmente pela crítica. Fico do lado da crítica desta vez. Como é possível não gostar desta pequena e peculiar obra-prima?
Este livro traz Dostoiévski bem ao estilo do já escrito, na época, Crime e Castigo, porém com uma psicologia, em certo ponto, mais tragicômica. Todo esse aspecto caricato é permeado também por um suspense incômodo, que não admite que o leitor tome a frente e pense por si só. Aliás, convém voltar a este ponto alguns parágrafos adiante, depois de exposto um pequeno conjunto dos acontecimentos principais.
Veltchanínov é um solteirão já encaminhando aos seus anos finais, residente de São Petersburgo, rico e bem relacionado com a classe nobre. Traz em sua bagagem uma personalidade arrogante, estúpida e de completo desprezo por aqueles que diferem de si por suas condições financeiras ou posições sociais. Além disso, até pouco tempo se gabava de suas relações com mulheres casadas, algo que, além do prazer do ato em si, lhe rendia a troça para com os devidos cornos das relações, com os quais, em algumas ocasiões, mantinha até mesmo uma espécie de amizade.
Todavia, algo começa a incomodar Veltchanínov: uma tal "coceira mental", provinda talvez de uma certa crise de consciência ao analisar suas ações no passado. Vem com ela uma crônica irritação, que o faz se tornar insuportável até para si. Muito provavelmente tal incômodo tenha se originado a partir das visões repetitivas nas ruas de São Petersburgo de uma certa figura, cujo chapéu era adornado com uma fita de luto, que ele parecia conhecer, e que talvez o estivesse perseguindo.
Diante de suas reviravoltas conscienciais, bate à sua porta, de madrugada, o tal sujeito que o havia encabulado, o que, obviamente, lhe causa estranheza. No entanto, imediatamente os dois começam a conversar e acabam por se reconhecerem depois de nove anos sem se verem. Ora, se não é Pável Pávlovitch, antigo amigo seu, casado com Natália, com quem teve um caso?
A partir daí é que Veltchanínov começa tanto a se coçar que, muito em breve, a coceira vira ferida. Conversa vai, conversa vem, ele acaba por descobrir o motivo da fita de luto no chapéu do sujeito: Natália está morta. Aparentemente, o que Pável desejava era apenas reencontrar o amigo que podia lhe servir um ombro, visto que, pela tendência do viúvo à embriaguez, a morte da esposa havia o afetado sobremaneira. Mas Veltchanínov não se convence dessa motivação.
Em meio a dias de conversa, algo começa ainda mais a assustar o antigo amante: teria Pável descoberto a traição da esposa? Teria ele sabido do caso? Caso sim, por que toda aquela amabilidade? Estaria ele planejando alguma vingança? Ora pensava que sim, ora pensava ser exagero. Não era Pável um "eterno marido", a quem Veltchanínov reservava apenas sua troça e desprezo? Esse tipo nunca fica a par de nada, fica?
Como se não bastante o inusitado da situação, Pável havia trazido consigo Liza, uma linda e assustada menina de oito anos, que, aparentemente, parecia sofrer nas mãos do pai (se é que, de fato, Pável era seu pai). Quando Veltchanínov a descobre ao visitar os aposentos do retornado amigo, faz suas contas e começa a cogitar a possibilidade de Liza ser sua filha. Se Pável procurava por vingança, que parte a menina teria nisso?
Basicamente, esse é o enredo que levará aos notórios comportamentos dos personagens. Repito: notórios. Notórios porque não seriam nada comuns se a história fosse contada por qualquer outro autor que não fosse Dostoiévski. De fato, não são comuns, mas "tornam-se" comuns à medida que o autor conduz o leitor. E aqui volto ao assunto mencionado no início deste texto: Dostoiévski não deixa o leitor tomar a frente, ele não permite que se crie hipóteses acerca de como seus personagens irão se comportar. Ele é quem impetra as nuances psicológicas de seus personagens no leitor, e tudo isso é feito de forma completamente sutil, gradual, sem que haja qualquer tipo de insight. De repente, são estranhos os comportamentos dos personagens; de repente, são completamente justificáveis. Quando e de que maneira isso acontece, só Deus sabe. Não à toa é ele um influenciador de Freud.
Provas desses comportamentos peculiares de O Eterno Marido não faltam: Veltchanínov deixa que Pável Pávlovitch durma em sua casa, mesmo temendo a possível vingança; ambos tecem elogios um a outro em dado momento, e em outro estão às farpas; às vezes parecem estar à vontade um com o outro, como se um soubesse do que o outro sabe sem que precisassem expor tais pensamentos, e como se toda a situação já estivesse resolvida sem sequer necessidade de diálogo; às vezes seus diálogos são completamente entremeados de dissimulações, expressões implícitas, como se cada um quisesse captar o que o outro sabe sem o fazer diretamente.
Aliás, falando em diálogos, talvez esse seja o ponto mais notável desta obra. Os dois se amam e se odeiam de uma forma completamente anormal, mas ao mesmo tempo compreensível. Ainda que narrado em terceira pessoa, o livro parece também narrado em primeira, por mais que isso soe estranho. A mesma quantidade de consonância é a mesma de antagonismo. Tudo é feito por meio de palavras, gestos e comportamentos subentendidos, em dado momento com aspecto cômico, em dado momento com certo toque de suspense e receio. Tudo isso é caracterizado, acima de tudo, repito, pelos diálogos, a grande obra-prima dentro dessa obra-prima, a aranha que tece os fios desse livro. Por isso é de extrema importância o papel da tradução, e Rubens Figueiredo, nessa edição, soube fazê-la com maestria.
O eterno marido, como prefigura Dostoiévski através dos pensamentos de Veltchanínov, é aquele cujo papel é de mero ornamento social, aquele que nasce para levar chifres. Sua função na sociedade é apenas cumprir sua posição de homem, deixando que sua companheira cumpra, sob certo véu um tanto quanto transparente, sua posição contraventora, em conjunto com o eterno amante, que é eterno geralmente em seu papel, mas quase nunca para com sua cúmplice.
A grande essência de O Eterno Marido está na dubiedade dos protagonistas, no receio, na falsa ou não amabilidade, e, mais do que tudo, na construção de qualquer que seja a justificativa para qualquer comportamento, cuja absorção é inevitável ao leitor, como acontece em Crime e Castigo, por exemplo. Mesmo perambulando pelos subentendidos, a mensagem de Dostoiévski acaba ficando clara com o desfecho da obra. Algo que ainda fica mais claro é a curiosa relação amistosa dos dois, tanto quanto a intrigante permissibilidade de um para com o outro, ainda que haja certa periculosidade nessa aproximação. Basta vasculhar a consciência de Veltchanínov e você encontrará tudo lá, encoberto por algumas linhas, descoberto por outras. Mas isso leva tempo. Antes a história precisa ser devidamente mastigada, regurgitada e novamente mastigada por alguns dias.
"O monstro mais monstruoso é um monstro com sentimentos nobres; eu sei disso por experiência própria, Pável Pávlovitch! Para o monstro, a natureza não é mãe carinhosa, mas sim madrasta. A natureza cria monstros, mas não para ter pena, e sim para dar cabo deles... e com razão. Hoje em dia, abraços e lágrimas de perdão não saem barato nem para pessoas decentes, quanto mais para gente como eu e você, Pável Pávlovitch!"

"(...) Mas será que ele me amava ontem, quando ficou falando de amor e me disse: 'vamos acertar as contas'? Sim, ele me amava com maldade, e esse é o amor mais forte..."
ROBERTO662 18/04/2020minha estante
Eita, Crime e castigo é para mim a OBRA de Dostoiévski.
Não li mais nada dele , sinceramente tenho muito medo de ler e não sentir o que Crime e castigo me fez sentir.
Até comprei O eterno marido, mas não saiu da estante ainda kkk
Acho que é meio inevitável não ter essa comparação com Crime e castigo


Betega 18/04/2020minha estante
Junior, na verdade Irmãos Karamazov é considerado o melhor dele. Eu não li, e tenho dificuldade em imaginá-lo (ou qualquer livro) tão melhor que Crime e Castigo para que possa haver consenso sobre qual é melhor, mas... até um amigo meu fala: "Eu reconheço que Irmãos... é melhor, mas Crime e Castigo mexeu demais comigo e é meu preferido". Agora, Dostoievsky é gênio, não se preocupe. Não deve gostar TANTO quanto Crime e Castigo, mas não vai manchar a imagem do autor, todos os livros são demais. Agora me empoguei com O Eterno Marido, depois desta resenha do Eduardo


ROBERTO662 18/04/2020minha estante
Oi Betega. Sim, acho que todos possuem o seu valor, mas sempre existem aqueles livros que nos pegam mais.


Leio, logo existo 18/04/2020minha estante
Alguém estava motivado a escrever uma resenha! kkk


Eduardo 18/04/2020minha estante
De todos os que li do Dostô, Crime e Castigo também é A OBRA pra mim, Junior. Mas ainda não li Os Irmãos Karamázov (está na minha meta desse ano), então esse preferido é provisório. Veremos kkk


Eduardo 18/04/2020minha estante
Também penso ser quase impossível imaginar algo que me faça sentir o que Crime e Castigo me fez, Daniel. É tão único, tão ELE haha. Mexeu muito comigo também, e estará sempre entre meus favoritos.
Muito obrigado, Daniel :) Caso realmente leia, depois me diz o que achou.


Eduardo 18/04/2020minha estante
Acertou, "Leio, logo existo" kkk. Fazia meses que eu não escrevia uma resenha aqui. Tive que quebrar a ressaca haha.


glsm 20/04/2020minha estante
Uau! Excelente resenha, Edu.


Eduardo 20/04/2020minha estante
Valeu, Gabi! Obrigado :D
E estou de olho nas tuas leituras avançando haha


Ery 11/05/2020minha estante
Resenha incrível!! Já quero ler!?


Eduardo 12/05/2020minha estante
Valeu, Ery! Muito obrigado :D Leia sim! Depois comente o que achou!


Maria 03/01/2023minha estante
Amei a resenha!


Vinicius.Zwarg 28/04/2024minha estante
Que linda resenha. Parabéns...




Andre.Trovello 15/01/2021

Ótimo!!
Muito bom! A construção das personagens é muito bem feita e o enredo te prende até o final.

Super bem escrito e curtinho, acho q é um ótimo começo pra quem quer ler Dostoievski.
Recomendo bastante!
Soph 17/12/2021minha estante
So vim aqui pra falar q vc tem as melhores resenhas


Andre.Trovello 18/12/2021minha estante
Aaaaaa mto obggg ??


Soph 18/12/2021minha estante
??




Lari ... 07/08/2024

O Eterno Marido
O Eterno Marido é um romance curto de Dostoiévski, publicado em 1870.

Logo no início, conhecemos os conflitos de Veltchanínov, um homem rico, de personalidade arrogante e solteiro que, por volta dos 40 anos, começa a ter pequenas "crises de consciência". Durante a juventude, aproveitando-se de sua condição, beleza e influência, ele acaba tendo diversos casos com mulheres casadas.
Ao sofrer de insônia, ele percebe, através da janela, um homem que já havia visto por diversas vezes nas ruas de São Petersburgo e que o incomodava, vestindo um chapéu com uma fita de luto.
Esse homem vai até sua porta e, para a surpresa de Veltchanínov, é Pável Pávlovitch, marido e viúvo de sua ex-amante, que ele não via há 9 anos. 

É a partir desse momento que surge a dúvida de Veltchanínov e do próprio leitor: "O que ele está fazendo ali?" "Ele sabe/desconfia de alguma coisa?". A habilidade de Dostoiévski em deixar os leitores e o próprio personagem na linha de incerteza é incrível.

"É uma daquelas mulheres?pensava Veltchanínov?que parecem ter nascido para ser infiéis. Tais mulheres nunca perdem a inocência em solteiras: a sua lei da natureza exige que se casem para tal. O marido é o seu primeiro amante, mas só depois do casamento. (...)
Veltchanínov estava convencido de que existia, de fato, este tipo de mulheres e, também, de que existia o tipo correspondente de maridos, cujo único destino seria precisamente o de corresponder a este tipo feminino. Na sua opinião, a essência de tais maridos consiste em serem, por assim dizer, "eternos maridos" ou, melhor, serem na vida apenas maridos e mais nada."

Um detalhe interessante é que Dostoiévski escreveu o Eterno Marido porque estava fugindo de credores e precisava de dinheiro. O próprio autor não gostou muito da obra, mas isso não é o que a crítica pensa, uma vez que é considerado o conto mais bem escrito de Dostoiévski. 

Enfim, a narrativa é bastante envolvente, com diálogos muito interessantes entre o marido e o amante, repletos de insinuações, indiretas e acusações.
Com certeza é uma leitura que vale a pena.
djenifer.schneider 07/08/2024minha estante
Como você é culta. Adorei. Te segui!


Lari ... 07/08/2024minha estante
Muito obrigada, Djenifer! ??


Celo90 07/08/2024minha estante
Minha amiga Lala como eu admiro sua inteligência. Dostoiévski é meu preferido.
Leia crime e castigo você vai amar


Lari ... 07/08/2024minha estante
Obrigada, Marcelo! ?
Vou ler sim. Está na minha lista, estou me preparando.


Gleidson 07/08/2024minha estante
Boa resenha! Eu to querendo ler esse também. ?


Lari ... 07/08/2024minha estante
Obrigada, Gleidson! ?
Acredito que você vai gostar!


Filipe378 07/08/2024minha estante
Nossa!! Estou impressionado com sua resenha. Ficou ótima!!
Vou tratar de ler esse livro o quanto antes.
P.S. eu sabia que sua resenha ficaria top. Parabéns!


Lari ... 07/08/2024minha estante
Muito obrigada, Filipe! ??
Você vai gostar! Quando ler vou acompanhar suas impressões!
Ah, agradeço pelas palavras. ??


Antonio904 09/08/2024minha estante
Esse está na minha biblioteca pegando poeira. Vou dar uma chance.
Parabéns pela resenha.


Marcelo Rissi 18/10/2024minha estante
O conteúdo da resenha é excelente e seu português é perfeito! Parabéns!


Lari ... 20/10/2024minha estante
Muito obrigada, Marcelo! ?




Albieri 01/03/2021

Esperava mais
7° Livro do Ano
???

O Eterno Marido - Fiódor Dostoiévski

Meu primeiro livro do autor e confesso que não achei ele tão bom quanto a crítica o caracteriza, um filme com diálogos que não chegam a uma conclusão simples.

Claro que muitos vão dizer que para bom entendedor meia palavra basta, mas nesse caso a de se convir que mesmo entendendo o conteúdo o diálogo parece estranho.

Um amor platônico que se instaura, uma raiva engedrada, mas que não leva a lugar nenhum.

Um final seco demais, mas uma coisa foi boa, a narrativa, não houve dificuldades em se traduzir tal obra e isso me deixou bastante feliz, claro que lerei mais algum livro do autor. E espero que sejam melhores que esse.

#livro #book #OEternoMarido #FiodorDostoievski #literaturarussa #minhaestante #cabeceira #skoob #skoobnews #amoler #leitura #amorporlivros #minhabiblioteca
#biblioteca #companhiadasletras
Jaqueline 02/03/2021minha estante
Ainda não li esse livro, mas estou fazendo uma leitura em ordem cronológica do Dostoievski. Dá para ver bastante a evolução dele na escrita e a mudança de estilo. Entre os primeiros, recomendaria Noites Brancas, Gente Pobre (se não me engano foi o primeiro) e Humilhados e Ofendidos. Quanto as obras mais renomadas, sem dúvida recomendaria Crime e Castigo. Particularmente gosto muito de Dostoievski, mas ele realmente pode ser "seco" e trazer finais que parecem meio abruptos as vezes.


Albieri 02/03/2021minha estante
Valeu a dica.




Bookster Pedro Pacifico 26/02/2020

O eterno marido, de Fiodor Doistoiévski - Nota 9,5/10
Publicado em 1870, quando o autor já tinha atingido a maturidade em sua carreira, tendo inclusive publicado "Crime e castigo” alguns anos antes, “O eterno marido” é considerado um dos romances curtos mais bem sucedidos de Dostoiévksi. E depois da leitura, não há como discordar dessa afirmação. A obra é completa, com personagens bem construídos, reflexões interessantes e um misto de comédia e drama. Uma leitura muito gostosa de ser feita e, na minha opinião, pode ser um bom começo para quem quer iniciar nos livros do autor.

A narrativa até parece simples, pois envolve um tema até batido na literatura: o triângulo amoroso. Mas para quem conhece tanto os conflitos internos do ser humano como Dostoiévski, a traição, o amor e a vingança se transformam em prato cheio para a construção de um romance inteligente e cheio de suspense.

Depois de quase uma década de ausência, Pávlovitch vai encontrar Vieltchâninov, com um objetivo pouco claro e que vai muito além de um puro e simples “acerto de contas”. E é desse encontro entre o marido, agora viuvo, com o ex-amante de sua mulher, que Dostoiévski constrói os diálogos que vão servir como o fio condutor dessa história - e que, na minha opinião, são a melhor parte da obra.

Diferentemente de algumas obras do autor, esse livro é de uma leitura fluida e sem tantos aprofundamentos no psicológico dos personagens. A construção de Pávlovitch, o bobo e o “eterno marido”, e de Vieltchâninov, um típico “playboy” de São Petesburgo, está nas atitudes de cada personagem, em suas reações aos acontecimentos - alguns bem dramáticos - que vão se desenrolando durante a leitura.

Recomendo muito, excelente leitura! “Mas amava-me ao acaso ontem, quando expressou o seu amor e disse: ‘Ajustemos as contas?’ Sim, amava-me por ódio; e este amor é o mais forte…"

site: https://www.instagram.com/book.ster/
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Marlonbsan 28/02/2023

O Eterno Marido
Após quase uma década, acontece o reencontro entre Pável Pávlovitch e Vieltchâninov. E com isso, vão relembrar o passado e momentos que viveram, os ressentimentos e acertos de conta.

O livro é narrado em terceira pessoa e acompanhamos, basicamente o que acontece com Vieltchâninov e a escrita apresenta uma densidade considerável.

A ideia central da narrativa é bem interessante, assim como há muitas peculiaridades entre os personagens e suas relações, como se conheceram, como foi o reencontro e o que os ligam, além, é claro, de aspectos da época, assim como da cultura russa.

Novamente, no início do livro tive que me acostumar com a escrita e com as orações explicativas, adversativas e palavras entre vírgulas que travaram um pouco a leitura. Outro ponto que não ajuda na fluidez, são os nomes, sempre aparecem junto com os sobrenomes e também apelidos ou até mesmo outros nomes compostos para a mesma pessoa e isso pode confundir.

Os diálogos entre os personagens são bem-construídos e condiz com o tom que a história passa, a relação e forma de tratamento entre as pessoas possui algumas peculiaridades. E a premissa básica do livro está ligada à essa interação, então pode causar alguns estranhamentos.

Como de costume, há várias notas de rodapé para explicar ou exemplificar algo da história, dos costumes ou da época, pelo menos nessa edição, e isso pode fazer com que se quebre um pouco a progressão, ficar parando para ler e entender algo.

É inegável que Dostoiévski consegue criar cenas e diálogos que geram sentimentos, nem sempre sentimentos bons, já que nesse caso, era meio angustiante as conversas que davam voltas e não chegavam a uma conclusão, ainda mais que eram com personagens, muitas vezes, em estado de embriaguez. De todo modo, creio que seja uma experiência interessante, principalmente para começar a ler as obras do autor.
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Paula 27/01/2023

O Eterno Marido
O Eterno Marido (1870) é um curto romance de Dostoiévski, pertencente à fase madura e posterior ao exílio do autor na Sibéria. Na época em que foi escrito - no ano anterior a sua publicação - Dostoiévski estava endividado e viajou a Dresden, na Alemanha, para fugir de seus credores. O romance foi finalizado em três meses. Embora o próprio Dostoiévski o tenha detestado - por ter outras ideias, talvez mais complexas e difíceis de serem executadas sob pressão da editora e em tão pouco tempo - O Eterno Marido foi muito bem aclamado pela crítica.
A narrativa se inicia com a apresentação do vaidoso garanhão Aleksei Ivanovitch Veltchaninov. Assim como Raskolnikov, protagonista de Crime e Castigo, Veltchaninov sofre de uma espécie de hipocondria e de uma insônia da qual não identifica a causa. Andando pelas ruas de São Petesburgo, ele se sente perseguido por um homem que usa um chapéu adornado com uma fita de crepe em sinal de luto. Os dois se encaram na rua em cinco ocasiões diferentes antes que o rapaz de chapéu visite Veltchaninov às três da manhã. O rapaz de chapéu é Pavel Pavlovitch Trussotski, viúvo de Natália, que por sua vez, é ex amante de Veltchaninov.
Toda a abra gira em torno do embate entre esses homens, construído por, entre outros elementos, excelentes diálogos, que instigam o leitor. A história ganha contornos mais dramáticos quando Liza, uma menina sofrida, de 8 anos, integra a narrativa. São abordados temas com violência, alcoolismo, paternidade como propósito de vida e as contradições nas relações humanas.
Discordo da opinião de Dostoiévski sobre essa obra. O Eterno Marido é um ótimo livro, com uma narrativa por vezes cômica, por outras trágica, personagens bem construídos e diálogos que prendem os leitores.

#Dostoieviski
#OEternoMarido ???
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HA_Kél 08/03/2011

Minha leitura...
Eu simplesmente adorei o livro!
Apesar da bizarra história de um marido "traído", o que mais me impressionou foi a clara narrativa de "ciclos" na vida de uma pessoa (no caso do livro, várias pessoas). Como se a vida desse voltas, e te colocasse sempre, novamente, no mesmo conflito...você "cresce" a medida que percebe esses ciclos e procura romper com eles. O eterno marido, ou o eterno fracassado, ou o eterno depressivo, ou a eterna mulher-carente, o deixa de ser ao escolher não repetir erros e comportamentos que o aprisionam.
Luciana 27/04/2011minha estante
Fiquei muito interessada em ler.


Magno45 12/11/2018minha estante
Perfeita a análise, acabei de ler, uma narrativa sensacional e reflexiva.




Alessandro117 01/08/2021

Dois amantes de si mesmo.
O que pensar desse livro? Opinião não consegui formar de fato, o que foi aquele beijo? Quais os significados ocultos, e o que imaginar das lacunas duvidosas?
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Nicole Pazzini 24/05/2024

O livro conta a história de Vieltchâninov, um homem já 'velho' (naquela época, com quarenta anos já era considerado velho), que demonstra ser um pouco egocêntrico, grosso e carrasco. A angústia inicial de Vieltchâninov surge quando ele cruza mais de uma vez com um sujeito que usa uma fita de luta, despertando nele uma certa aversão, o fazendo questionar se ele conhecia aquele sujeito, se aquele homem o estava seguindo, qual seria o motivo de o encontrar com certa frequência?
Um dia, Vieltchâninov está em seu apartamento (isso era madrugada, já que o personagem sofre de insônia) e vê pela janela que o sujeito com a fita de luto está em frente ao seu prédio. Neste momento ele passa a recordar, o sujeito em questão é Pávlovich, um amigo que ele não via já fazia nove anos.
Pávlovich surge na porta de Vieltchâninov de madrugada, um tanto confuso. Ele adentra ao apartamento e informa que Natália, sua esposa com o qual Vieltchâninov teve um caso (nove anos antes), faleceu de tuberculose. Claro, Vieltchâninov fica se perguntando o motivo para aquele antigo amigo bater em sua casa aquela hora para lhe informar sobre isso.
Nisso, o personagem relembra o momento em que ele se apaixonou e teve o caso com Natália. No dia seguinte ele vai visitar Pávlovich e descobre que ele não está sozinho, mas sim com Lisa, a filha que ele teve com sua esposa Natália.
Vieltchâninov se encanta com Lisa e surge uma indagação: será que Lisa é filha mesmo de Pávlovich? Será que ele soube do caso que tivera com Natália? O restante do livro reflete muito essa dúvida do personagem.
Ele nutre um amor paternal por Lisa, procurando até estabelecer ela em um local mais apropriado (em um sítio de um casal amigo que possuem filhos). As dúvidas só aumentam quando ele percebe que Pávlovich não é um grande pai, não possui grande importância com o bem-estar de Lisa.

Resumidamente, sem spoiler, é disso que trata essa magnífica obra de Fiodor. Eu gostei MUITO, diria que esse romance é ainda melhor que Noites Brancas para quem nunca leu o autor.
Nesse livro ele desenvolve bem o personagem, indo em questões morais, filosóficas e psicológicas, mas não é tanto como ocorre nas outras obras que eu li, o que não afeta em nada o êxito final da obra e da construção do personagem.
"Na sua opinião, a essência de tais maridos consiste em serem, por assim dizer, "eternos maridos" ou, melhor, serem na vida apenas maridos e mais nada. "Um homem assim nasce e desenvolve-se unicamente para se casar e para, depois do casamento, se tornar imediatamente num apêndice da sua mulher, mesmo no caso de ter um carácter individual incontestável. A principal característica deste marido é um enfeite bem conhecido. Não pode deixar de ser cornudo, do mesmo modo que o sol não pode deixar de brilhar; mas não só nunca sabe disso, como também, de acordo com as leis da própria natureza, é incapaz de sabê-lo."
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s.rainne 29/07/2023

Se um dia eu ler um livro do Dostoievski e for ruim, saibam que é o fim dos tempos.

Livro curtinho, com um humor muito atual e ácido e do jeitinho que o brasileiro gosta: cheio de traição.

Esse livro consolidou o que eu achei do autor no meu primeiro contato, ele é BRILHANTE.

É isso. Leiam, amores ?
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analaura.vb 07/05/2020

Muito bom.
Meu primeiro contato com o autor, e já sinto que serei grande leitora de suas obras.
O livro tem leitura tranquila, com grande riqueza de detalhes dos comportamentos humanos.
A história é dramática e ao mesmo tempo cômica, com pitadas de ironia.
Gostei bastante.
Évelin Noah 07/05/2020minha estante
Dostoiévski é realmente magnífico!
Recomendo que leia Crime e Castigo. Eu particularmente acho formidável!




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Evy 24/11/2020

Nunca achei que leria tão rápido um Dostoiéviski.
O Eterno Marido, como bem descrito no prefácio de Ruth Guimarães nessa edição da Nova Fronteira, é um romance a parte dos demais do autor. Não é um livro que tratará de grandes problemas filosóficos e existenciais, como é característica de suas obras, mas uma história mais leve, embora mordaz, trágica e cômica. Eu indicaria esta obra à todos aqueles que estão iniciando na leitura desse grande autor!

Alexei Ivanovich, ou Veltchaninov como é nos apresentado logo no início, é um homem de quase 40 anos, dado à melancolia e que está em um momento mais recluso de sua vida e refletindo sobre diversos aspectos dela quando começa a se sentir perseguido por um desconhecido de chapéu com uma faixa preta de luto. Ao longo dos capítulos e depois de várias digressões, descobrimos que seu perseguidor é na verdade um conhecido do protagonista, Pavel Pavlovitch e que ambos não se veem há 9 anos. Pavel está de luto pela morte da esposa a quem venerava e que lhe deixou uma caixinha com todas as cartas de amor que trocava com seus amantes.

Alexei, que também fora amante da esposa, fica desconcertado e não entende porquê o homem lhe procura já que nunca havia trocado correspondências com a amante. Ela sim, havia lhe enviado uma carta certa vez, mas que ficara sem resposta. Além disso, Alexei descobre que Pavel está hospedado em um hotel com a suposta filha que desconfia seja dele e a partir de então vamos acompanhar todo o drama dessa situação através de encontros e diálogos extremamente bem construídos entre os personagens fantásticos criados por Dosto.

Ao longo da história que se mostra impossível de largar, já que você quer descobrir todos os pormenores dessa trama trágica e cômica ao mesmo tempo, confesso que fiquei confusa algumas vezes, mas no fim, tudo é esclarecido e não há como não admirar a incrível capacidade narrativa deste autor. O livro é curto, de leitura rápida e leve e traz muitos elementos básicos da literatura dostoievskiana.

Vale a pena conhecer e como disse no início, é um ótimo livro pra quem quer começar a ler a obra desse autor fantástico! Super recomendo.
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Tiago Doreia 24/01/2021

Grande leitura
?O monstro mais monstruoso é o que tem sentimentos nobres?

Minha primeira experiência com o autor e com a literatura russa, e que ótima primeira impressão. O eterno marido é um romance trágico cômico sobre amor, ódio, ciúmes, inveja e tantos outros sentimentos que permeiam as relações humanas. Apesar de curto (cerca de 200 páginas) é profundo o suficiente pra nos fazer refletir e, por várias vezes, nos colocar no papel de cada personagem e imaginar o que faria a partir daquele ponto.

Uma história que vale muito a pena ser lida. Recomendo fortemente para quem não conhece ou tem curiosidade de conhecer.

Obs: fiquei muito intrigado com a construção dos personagens, que são deveras exaltados em tudo o que falam e sentem. Isso me deixou ansioso pra ler outros livros do Dostoiévski e descobrir se isso era uma característica cultural da época ou apenas uma criação caricatural por parte do autor.
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