Natalie Lagedo 24/08/2016
Este conto não estava nos meus planos iniciais de conhecer um pouco mais a obra de Tolkien. Estava lendo O Silmarillion e fiquei muito encantada com a poesia de toda aquela história da Música dos Ainur e dos acontecimentos de Valinor e da Terra Média. Uma infinidade de personagens me deu um pouco de dor de cabeça no começo, mas depois (com a ajuda providencial do glossário constante na edição) me habituei ao estilo e ansiei por penetrar ainda mais nesse universo fantástico.
Procurei na internet alguma forma de ler as histórias de Tolkien de maneira que acompanhasse os fatos cronologicamente, pois percebi que o autor faz referência a outros pontos quase sempre. Achei o que buscava no site Tolkien Brasil, o qual oferece várias formas de leitura para os livros que falam sobre a Terra Média, a depender da intenção daquele que está lendo. Percebi que a sugestão de leitura intermediária é a que mais ajudaria a alcançar meu propósito. Por isso li Os Filhos de Húrin. Não poderia ter sido melhor.
Com a degradação dos elfos e homens, a narrativa abandona a poesia presente em O Silmarillion e ganha um aspecto de descrição bélica recheada de dor, perda, traição, arrependimento e incesto, tudo escrito de forma direta, sem os artifícios de linguagem que eu estava acostumada. No entanto, isso não diminui em nada a grandiosidade do texto, que mostra a batalha de Nirnaeth Arnoediad (Lágrimas Incontáveis) sob a perspectiva dos homens, diferente de O Silmarillion, que traz a ótica dos elfos para o mesmo acontecimento.
Como o próprio nome diz, o enredo se desenvolve tendo como palco principal Túrin e Nienor, filhos de Húrin, que foram vítimas da maldição lançada por Morgoth a seu pai depois que ele foi aprisionado em Angband. Vemos que os hábitos dos homens vão se distanciando daqueles praticados pelos elfos, considerados de beleza e sabedoria superior.
Uma das coisas mais legais do texto é que os personagens trocam de nome várias vezes, de acordo com algum fato marcante que tenham vivido. Por exemplo, Túrin, ao conviver com os lenhadores em Brethil, adotou o nome de Turambar, que significa Mestre do Destino. Ironia, uma vez que a maldição impediu toda a linhagem de Húrin de exercer o livre arbítrio.
Para quem não gosta de spoilers aconselho não ler os títulos dos capítulos, pois desvendam tudo o que vai ocorrer.
Longe de dar um ponto final à curiosidade dos amantes da bibliografia de Tolkien, Os Filhos de Húrin surge como um tempero para melhorar o sabor da leitura.