spoiler visualizarPedro3594 07/06/2024
Que o Stephen King sabe escrever uma história boa e absurdamente bizarra, isso não é novidade para ninguém!
"O Cemitério", o livro mais famoso, mais aclamado e mais bem comentado do Stephen King, é uma história de terror que vai muito além do simples horror onde coisas macabras acontecem. É um terror psicológico onde a pergunta é: o que você seria capaz de fazer para trazer quem você ama de volta?
Louis Creed acaba de se mudar junto com sua esposa e dois filhos para uma nova cidade. Ele conseguiu uma vaga de trabalho como médico (profissão para a qual ele se formou) numa universidade local. A casa é maravilhosa, tirando o fato da estrada ser bastante movimentada, com caminhões passando a todo momento (inclusive à noite), o que pode ser bem perigoso para humanos (e para animais). Jud Crandell, o senhor que mora há anos naquela cidade e que será o novo vizinho de Louis e sua família, se mostra muito simpático e prestativo logo de início. Afinal, com a chegada bastante caótica (sua filha mais velha, Ellie, caindo e ralando o joelho, fazendo um belo escândalo, e seu filho, Gage, sendo picado por uma abelha), foi uma verdadeira loucura.
Acontece que, depois de alguns dias já ambientados com o novo lar, Louis descobre que sua casa não é tão comum. Afinal, no fundo de sua casa, há um caminho bastante peculiar, que leva a um cemitério (mas não um cemitério de humanos e sim um cemitério de... bichos!). E isso não é nem o princípio das loucuras. Depois de uma experiência bastante macabra no seu primeiro dia no hospital, Louis descobre que as forças que rondam o cemitério dos bichos podem ser muito mais fortes do que uma mera lenda.
Primeiro, preciso parabenizar o Stephen King. A escrita desse cara é absurdamente maravilhosa (mas nada agradável). A escrita dele é fluida, envolvente e bem desenvolvida. Além disso, tende a ser altamente sombria e carregada de tensão a todo momento (sério, King pode escrever uma simples cena de dois idosos conversando sobre o clima e ainda assim ele tem o dom de deixar essa cena macabra). Junto com a boa escrita, se unem a inteligência e sagacidade do autor, além, claro, de um ótimo desenvolvimento da história. As cenas foram muito bem pensadas e todas aconteceram no momento exato que deviam acontecer. As cenas são bem escritas em um nível muito bom, principalmente as cenas de tensão, que são intensas e sombrias, fazendo a gente roer as unhas e tudo mais.
Um ponto que dá um grande bug no cérebro é que não sabemos muito bem para quem torcer, e, na verdade, nem sabemos muito bem para o que torcer. Stephen King traz um bom desenvolvimento e criação de todos os personagens do livro. Mais a fundo, Jud e Louis foram criados de uma maneira absurdamente perfeita. Eles são personagens intensos e únicos, cada um carregando seus medos, anseios e aflições. Jud parece um senhor misterioso, aquele típico que sabe de tudo e todos (sobre a cidade). Ele é bem velho, então, além de ter muita experiência, já vivenciou e presenciou muitas coisas (e muitas delas bastante traumáticas e medonhas). Dada a premissa do livro, Jud de cara se mostra alguém suspeito (até eu entender que a história não é sobre suspeitos ou não). Louis é um cara bastante controverso na minha opinião e o autor não entrega 100% da sua personalidade, pelo menos não no começo do livro. O mesmo Louis que pensa em abandonar sua família em qualquer lugar para ter 2 minutos de paz é o mesmo Louis que se preocupa com a família e não permite que nada, nem a morte, afete sua família perfeita. A esposa de Louis fica em segundo plano, mas também tem uma carga muito intensa e acrescenta bastante na história. E a filha deles, Ellie, que de início pensei (garotinha chata e mimada, e de fato ela é), mas também é muito inteligente para sua idade e, no final, ela pode ser uma chave para... (melhor não comentar sobre isso).
Preciso falar sobre o desenvolvimento do tema. Preciso confessar que o livro não é 100% fluido e tem cenas que são bem chatinhas e têm o famoso corta clímax. Mas acredito que foi uma tentativa do King de não deixar a história sem um ponto de alívio. No meu ver, os momentos de distração ou alegria são praticamente mínimos. Eu não sei se deveria me preocupar, mas eu não senti medo lendo este livro. É macabro? Sim, mas não fiquei com medo de dormir com as luzes apagadas, como muitos afirmam que ficaram. E o final, ouso dizer que foi bastante impactante. Quando você para para visualizar a última cena, não é o que você esperava ou ansiava que acontecesse (pelo menos eu esperava algo maior ou mais tenebroso). Mas acredito que o final foi para o lado mais dramático e que vai além da lógica humana, uma alucinação louca do Louis. A cena me deixou impactado e com o coração bem apertado, com uma mistura de sentimentos muito louca.
É um livro intenso. O final, posso me arriscar a dizer, foi muito corrido. Acho que ele escreveu pensando estar escrevendo um roteiro de filme, porque o final ficou parecido. É uma confusão de loucura, sobressaltos e impactos, e muita tensão. Ficamos esperando para saber o que vai acontecer... e quando acontece (AAAAAAAAAAAAAAAAA 💥) é muito louco, peculiar e sinistro. O livro demonstra o quanto a morte pode acabar com a sanidade de um ser humano e se apossar dela. Louis enlouquece e, lutando para ter uma família perfeita e indestrutível, ele acaba destruindo tudo. No fim, o livro fala sobre a morte em si. Ela é inesperada, cruel, fria e seca. Ninguém acredita que vai morrer, muito menos como. Ela só vem e se apossa de quem quer que seja, desde a pessoa mais saudável até um simples bebê que ainda está aprendendo a falar. "O Cemitério" é pesado e tenso, mas acaba trazendo muitas reflexões para nós, leitores.
Gosto de "O Cemitério", mas não digo que é a 7ª maravilha do mundo. É bom e foi bom acompanhar a narrativa e a história que King criou. Dou 4.5 estrelas. Vale muito a pena e super indico (mas não leia se você não tem coragem). Não entrego muita coisa nessa resenha, e é melhor você descobrir tudo que rola nesse livro por experiência própria. E o resto? Recomendo dormir de luz acesa, evitar estradas movimentadas e evitar ter um gato chamado Church (e nunca, nunca mesmo, enterrá-lo em um cemitério de bichos).