jota 15/05/2023BOM: uma história curta mas intensa e curiosa; estamos num mundo próprio, a Bahia de Jorge AmadoLido entre 09 e 14 de maio de 2023. Avaliação da leitura: 3,8/5,0
Bom ler novamente um livro de Jorge Amado, já que o último foi há mais de uma década, O Sumiço da Santa. Uma história peculiar, publicada pela primeira vez em 1988, que envolvia certo mistério e muita religiosidade à baiana – tratava do desaparecimento de uma imagem de Santa Bárbara, ou Iansã no candomblé: o sincretismo religioso na Bahia é algo notável há tempos na obra de Jorge Amado.
Já este O compadre de Ogum é uma narrativa bem mais antiga, foi finalizada em 1964. O livro fala de uma Salvador impregnada de orixás, pais, mães e filhas-de-santo, padres, prostitutas, capoeiristas, camelôs etc., para onde convergem todos os deuses afro-brasileiros para o batizado de um garoto, Felício. Órfão de mãe e filho de pai incerto, o menino tem pouca cara de um típico baiano: tinha olhos da cor do céu, porque na família da mãe uma vez houve um marinheiro estrangeiro, um avô, coisa assim. Ou assada, outra coisa...
Alguém já disse que na Bahia, as pessoas não nascem, estreiam. Daí que o iluminado Felício terá como padrinho ninguém mais ninguém menos que Ogum, ou São Jorge, santo guerreiro no catolicismo, enquanto o negro Massu, seu suposto pai, será compadre desse importante orixá, coisa única a acontecer na Bahia. Mas o imbróglio não é assim tão simples: como é que uma entidade mística pode comparecer a um batizado a ser celebrado por um padre católico? Até chegarmos a esse ponto tem muita história antes, ainda que o livro seja bastante fino (menos de 100 páginas). Tem muita história depois, também.
A editora Record informa que O Compadre de Ogum é parte de outro livro de Amado que não li – Os Pastores da Noite, que já foi transposto para o cinema e televisão. Dos que li dele, e foram vários, os mais conhecidos, depois a Bahia sempre me vem à cabeça como outro país dentro do Brasil. E da própria região nordeste, justamente pelas fortes ligações culturais do estado com a África, sua população majoritariamente descendente de africanos e pelo sincretismo religioso que ali se verificou. Vale a pena dar uma mergulhada nesse mundo de vez em quando...