Felipe99 24/01/2023
? OGUM, O PADRINHO
Desde que li 'Mar Morto' fiquei apaixonado pela literatura de Jorge Amado. Comecei a ler 'O Compadre de Ogum' com altas expectativas. E foram ultrapassadas, fazendo eu me apaixonar ainda mais pela narrativa tão regionalista do escritor. É sempre uma experiência incrível visitar a Bahia de Amado. Sempre dando voz as pessoas simples que vivem a margem da sociedade e, para além disso, em 'O Compadre de Ogum' da destaque para o Candomblé, religião tão descriminada no século 20. O romance acaba contendo um rico ensinamento, sobre a religião com seus ritos, posições, objetos sagrados e a diversidade de seus orixás.
A narrativa gira em torno do batizado de Felício, que prestes a completar um ano de idade, ainda não descera as águas da pia batismal. A prostituta Benedita, mãe do menino, cometida por uma doença, decide deixar a criança sob os cuidados do possível pai, o carregador de feira, negro Massu. A negra Veveva, avó de Massu, exige que Felício seja batizado imediatamente. E começa os preparativos para esse evento. O dia e a igreja que acontecerá o batismo, são escolhidos e a madrinha também, mas surge um problema: Quem será o padrinho? escolha difícil para Massu, que é bem querido na região e tem vários amigos. Ele deixa essa decisão para Ogum, seu orixá. Acontece o inesperado, o próprio Ogum decide ser o padrinho da criança. Decisão que deixa a cidade de salvador em grande agitação.
O batizado se torna um feito histórico, reunindo na igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, a sociedade baiana, de diferentes credos religiosos, crianças, adultos, pessoas de diversas profissões e classe social, todos para ver Ogum ser padrinho. Embora nem tudo ocorra da maneira esperada. O livro contém um toque de humor, é rico nos detalhes, nos personagens e tem a presença do sincretismo religioso. Apesar de "materialista convicto", Jorge Amado tinha forte admiração pelo Candomblé. Quando deputado, propôs leis que assegurassem a liberdade de cultos religiosos e fortalecessem os direitos autorais. Era bem querido, por dar voz a religião e, recebeu o título de obá Arolu (honorífico) no Axé Opô Afonjá.