@fabio_entre.livros 19/10/2015
Um caso mais que curioso: tragicômico
Depois de assistir ao longo filme de David Fincher, protagonizado por Brad Pitt, descobri que o livro no qual ele foi inspirado era, na verdade, um conto não muito extenso, de F. Scott Fitzgerald. Assim, em pouco tempo pude abrir uma brecha nas minhas leituras atuais e ler este conto.
Para começar, devo dizer que a leitura foi uma agradável surpresa; fiquei fascinado pelo filme, mas o conto é, por assim dizer, quase que totalmente diferente, sem, contudo, que isso diminua seus méritos. Enquanto o filme é melancólico, poético, triste e profundo, o conto de Fitzgerald é tragicômico, centrado no humor acarretado pelas curiosas e inusitadas situações (muitas delas constrangedoras) que envolvem o pequeno Benjamin desde seu nascimento.
Com uma ambientação diferente da mostrada no filme, o conto se inicia ainda no século XIX, no ano de 1860, na “Baltimore de antes da guerra”, estendendo-se até a década de 1920; durante esse intervalo de tempo, acompanhamos o “nascimento envelhecido” de Benjamin e seu desenvolvimento, no qual ele vai crescendo e, estranhamente, rejuvenescendo, paradoxalmente, até atingir estatura adulta e começar a regredir, de modo que, ao chegar ao fim da vida, ele está com corpo de bebê, embora já com mais de 60 anos de idade.
Diferenças à parte, e mantendo o foco no livro, Fitzgerald constrói uma história que emociona através da graça, às vezes até do sarcasmo, chegando até à melancolia enquanto retrata a inexorável passagem do tempo e seus efeitos sobre a curiosa existência de Benjamin. Nota-se que por trás do humor há essa profundidade reflexiva acerca do tempo (sobretudo na segunda metade do conto, aproximando-se do final).
Com uma linguagem simples e sem floreios, o conto é envolvente, daquele tipo que dá a impressão de que o autor está falando diretamente com o leitor, numa conversa entre amigos. Pessoalmente, achei este conto uma pequena obra-prima, de beleza indelével. Evocar a compaixão por meio de situações cômicas, ainda que absurdas do ponto de vista realista, é um feito prodigioso: faz-nos divagar sobre o quanto o fantástico é plausível e sinceramente emotivo quando o autor domina a arte de escrever.