Carla.Parreira 27/10/2023
GRAHAM, Lily. O Segredo da Livraria de Paris. São Paulo: Gutenberg, 2020.
Vou resumir relatando em primeira pessoa:
Meu nome é Valerie Dupont. Eu cresci em Londres com a minha tia Amélie após a morte da minha mãe. Fui levada de Paris aos 3 anos por causa da Segunda Guerra Mundial. Sabendo muito pouco do meu passado, aos 20 anos, finalmente começei a buscar os segredos acerca da minha origem. Quando descobri que tinha um avô vivo em Paris, que comandava uma livraria chamada Gribouiller, me candidatei ao emprego de livreira no local, mas com o nome falso de Isabelle Henry. Meu avô Vicent Dupont a primeira vista me pareceu um velho ranzinza, que não tinha ninguém na vida, além da vizinha, Madame Joubert. Disposta a descobrir os segredos por trás do meu passado e o que levou meu avô a abrir mão da minha guarda, embarquei no passado da minha mãe, Mireille, e descobri como ela engravidou de mim durante a guerra. O que muitos homens não perceberam depois de travar essas guerras é que, no fim, não existem vencedores de verdade, não mesmo: existem apenas vítimas, e elas continuam aparecendo muito tempo depois da guerra. Para alguns, a verdade é um fardo, algo que nunca pode ser restaurado depois de solto ? uma caixa de pandora ?, mas para mim foi o oposto. Foi uma ancora no passado que me deu a sensação de pertencimento. A convivência com meu avô foi bem interessante, pois ele sempre foi reticente quanto às relações humanas. Seu apego inexplicável comigo lhe causou uma espécie de desconforto. Ele acabou criando um laço de afeto comigo sem saber que eu era a sua neta, o que foi lindo de se ver. Mas eu também tinha outros dramas além da busca de saber da minha história de origem: eu era apaixonada desde a infância pelo meu vizinho Freddy, que nunca se interessou por mim. Mas com a minha mudança para Paris, as coisas mudaram. Eu poderia pensar que, de repente, passei a acreditar em contos de fadas e segundas chances. Durante a Segunda Guerra Mundial o racionamento de alimentos afetou muito as famílias. Aqueles que ajudaram os nazistas de alguma forma tiveram retaliação tanto durante quanto após a guerra. Essa retaliação aconteceu principalmente com as mulheres que tiveram relações com os nazistas e, não obstante, atingiu os filhos que saíram dessas relações, o que mostra que as consequências da guerra foram além das mortes e destruições. Eu mesma fui uma das consequências desse período sombrio. Nessa busca pelo passado, conheci a perspectiva daqueles que não conseguiram deixar suas casas e, assim, viram as cidades serem sitiadas e controladas por forças inimigas. Muitos tiveram que conviver diariamente com inimigos dentro de casa. Fiquei imaginando como essas pessoas foram forçadas a viver com uma tensão e ameaça comstante e crescente, enfrentando a falta de segurança em todo e qualquer lugar. A ocupação nazista foi especialmente cruel para as mulheres francesas, que sofriam todo tipo de assédio diariamente. Mas a força dessas mulheres que lutaram e não se entregaram foi algo essencial dentro da resistência francesa. As pessoas se revelam na guerra. Descobri que minha mãe era uma mulher forte, que lutou pelas suas concepções, que ajudou sempre os seus familiares e que sofreu por situações impostas pela vida e por seu coração. Sobretudo, aprendi que os julgamentos nem sempre são justos e que devemos sempre enxergar os vários lados de uma mesma questão.