Anna 02/02/2022
01.02.22
Gostei muito do início do livro. Refleti bastante. A ideia de que ninguém tem a mesma visão de mim, inclusive a minha versão que eu julgo verdadeira, me atingiu em cheio. Me fez pensar que não podemos julgar as pessoas por somente alguma ação ou fala, pois talvez aquilo não a defina completamente.
Lá pelo meio do livro já comecei a achar chato. O aprendizado que tirei do livro foi apresentado somente na primeira metade. Depois é só o personagem principal ficando meio doido (porque depois de chegar a certas conclusões, ele não vê mais sentido em nada).
"E quem sabe quantas vezes eu não falara sem qualquer suspeita do nariz defeituoso de Fulano ou de Cicrano e por isso, quantas vezes não fizera rirem de mim e pensarem: 'Vejam só este pobre homem que fala dos defeitos do narizes dos outros!' (o personagem tem o nariz "defeituoso")
"Notamos facilmente os defeitos dos outros e não percebemos os nossos."
"Eu não era para os outros o que até agora, dentro de mim, imaginava que fosse."
"Se para os outros eu não era quem eu acreditara ser para mim, quem eu era?"
"Que relação há entre as minhas ideias e o meu nariz? Para mim, nenhuma. Eu não penso com o nariz, nem me importo com meu nariz, pensando. Mas e os outros? Os outros que não pode, ver dentro de mim as ideias e veem de fora o meu nariz? Para os outros as minhas ideias e o meu nariz têm tanta relação, que se minhas ideias, suponhamos, fossem muito sérias e o meu nariz muito engraçado por sua forma, eles começariam a rir."
"Qualquer um podia pegar aquele corpo ali para fazer daquele Moscarda o que quisesse e lhe agradasse, hoje de um modo e amanhã de outro, de acordo com os casos e humores."
"Aquele corpo por si só era tanto nada e tanto nenhum, que um fio de ar podia faze-lo espirrar hoje, e amanhã levá-lo embora."
"Por que continuam a acreditar que a única realidade é a de vocês, esta de hoje, e se espantam, se irritam, gritam que seu amigo está errado, o qual, por mais que faça, nunca poderá ter, pobrezinho, o mesmo espírito de vocês?"
"Vocês, meus caros, nunca saberão, nem eu nunca poderei lhes explicar como se traduz em mim o que vocês dizem. Vocês não falaram turco. Eu e você usamos a mesma língua, as mesmas palavras. Mas que culpa temos, eu e vocês, se as palavras, em si, são vazias. E vocês as enchem com o seu sentido ao dizê-las e eu ao recebê-las, inevitavelmente, as encho com o meu sentido. Achamos que havíamos nos entendido, mas não nos entendemos de maneira nenhuma."
"Há um minuto, antes que isso lhe acontecesse, vocês eram outros; não só isso, mas também eram cem outros, cem mil outros."
"Mas poderia ser realmente meu aquele corpo, poderia realmente pertencer a mim, se não era eu quem ela abraçava e amava?"
"E não cometo com os outros o mesmo erro de que tanto me lamento?"
"Não estamos inteiros em uma determinada ação, portanto não seria uma atroz injustiça sermos julgados apenas por ela, ficarmos presos e suspensos nela. subjugados, por toda uma existência, como se esta se reduzisse àquela ação?"
"Morro a cada instante, e renasço novo e sem recordações: vive e inteiro, não mais em mim, mas em todas as coisas fora de mim."