SouDulce 16/11/2024"Pare de frequentar o passado, procure frequentar o futuro".Em Afirma Pereira de Antonio Tabucchi, mergulhamos na Lisboa de 1938. Inseridos nesse particular momento da Europa, há o crescimento de ideias como o fascismo e o nazismo, enquanto em Portugal vive-se o salazarismo. Nesse contexto, temos Pereira, um jornalista cultural viúvo que quer manter seu modo de vida como está acostumado. Entretanto ao conhecer Rossi, um jovem "subversivo", e sua namorada Maria, Pereira vai ser confrontado com a verdade que ele insistia em não querer enxergar, coisas estranhas se passa no seu país, será possível voltar a vida normal?
Tabucchi é um escritor italiano, mas apaixonado por Portugal (trabalhou como tradutor de obras escritas em português e é um apaixonado por Fernando Pessoa). Aqui ele compõe uma narrativa como se Pereira de algum modo estivesse dando um depoimento sobre sua história para isso ele sempre afirma (ou derivados similares) durante a narrativa, que a princípio parece estranho, mas vai ganhando interesse conforme a história avança.
No início seguimos com esse jornalista obcecado pelo tema da morte que vive uma vida passiva e metódica escrevendo a página de cultura de um jornal vespentino de segunda linha mergulhado em escritores católicos ou na literatura do século xix para se distanciar daquele momento em que vive, enquanto toma sua limonada e come suas omeletes no restaurante preferido, conversa com o retrato da sua esposa falecida e tem como amigo um padre.
Entretanto algo o incomoda, mas ele segue obcecado por desimportâncias. Até que ele resolve contratar um estagiário para escrever necrológicos de autores católicos, o jovem Monteiro Rossi que, junto à namorada Maria, está envolvido em atividades que o velho Pereira gostaria de manter distância. Aos poucos Pereira se vê enredado nos projetos de Rossi e em seus textos impublicáveis de escritores que são odiados pelos ditadores.
E, enquanto caminhamos pelas ruas de Lisboa e arredores, Pereira muda e, como nós, também encara aquilo que não queria: que num regime ditadorial, a verdade não está nos jornais, silenciados, mas nos encontros entre as pessoas e na nossa capacidade de silenciar ou gritar. E às vezes diante da realidade, a nossa alma passada precisa ser substituída para escolhermos o único destino possível.