oviajantedasestrelas 12/04/2022
Resenha: ‘Morte e Vida Severina’, um texto do modernista João Cabral de Melo Neto
“Morte e Vida Severina'' é uma peça de teatro em forma de versos, escrita por João Cabral de Melo Neto (1920-1999) que tem o subtítulo “Auto de Natal Pernambucano”, ou seja, um poema dramático. A história se passa possivelmente na segunda metade do século XX, no estado de Pernambuco, da Caatinga para o Recife. A obra foi escrita entre os anos de 1954 e 1955 e publicada em 1955.
João Cabral de Melo Neto conta a história de um nordestino, o Severino, um retirante que sai da sua terra natal, a serra da Costela, e seguindo o Rio Capibaribe, tenta chegar à capital, Recife, mas em seu percurso ele lida com várias mortes, com vários pontos de mortes. Com essas mortes o autor quer transparecer que, para ter o direito de viver eu preciso vencer a morte, ou seja, um duelo com a morte todos os dias.
“– O meu nome é Severino, como não tenho outro de pia. Como há muitos Severinos, que é santo de romaria, deram então de me chamar Severino de Maria como há muitos Severinos com mães chamadas Maria, fiquei sendo o da Maria do finado Zacarias [...]
[...]
Somos muitos Severinos iguais em tudo na vida: na mesma cabeça grande que a custo é que se equilibra, no mesmo ventre crescido sobre as mesmas pernas finas e iguais também porque o sangue, que usamos tem pouca tinta [...]”
Severino é a representação do nordestino como um todo, eterno retirante, que muito sofre, que está a todo momento sujeito às intempéries da vida, sempre diante de situações difíceis, tropeçando na morte, mas que não desiste do seu ideal, da sua busca.
É interessante observar que o personagem Severino tenta definir a sua origem, tenta dizer quem ele é fisicamente ou como ele morre, mas ele não consegue definir isso num contexto individual, mas sempre num contexto coletivo. Então, toda vez que o personagem tenta se individualizar ele acaba ficando mais coletivo. Quando ele tenta ser único, ele acaba sendo múltiplo.
Nas entrelinhas, “Morte e vida Severina” é uma crítica social à falta de preocupação dos governantes e da sociedade como um todo com os problemas que assolam o Nordeste brasileiro, como a fome, a sede, a falta de empregos e a violência contra o pobre. Leitura obrigatória para diversos vestibulares, a obra de um dos nosso maiores poetas é um dos livros mais belos e apreciados da língua portuguesa.
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