de Paula 26/11/2022
Muito mais do que viúvas assanhadas
Eu já tinha visto muitas pessoas comentando sobre esse livro na internet, mas tinha medo dele cair em algum ponto por tentar ser desconstruído e tudo o mais. Talvez ser pornográfico demais de forma despropositada, ferindo a comunidade punjab e hindu por ser da Índia o livro de sexo mais antigo e famoso do mundo, o Kama Sutra. Mas, dei uma chance e isso foi incrível, porque tive acesso a uma cultura não conhecida por mim, além da narrativa ser muito mais do que a escola de contos eróticos para viúvas.
O primeiro ponto que quero falar é como a religião, isso de modo geral, não apenas a punjab, pode ferir as pessoas, de formas tão marcantes e profundas que nem conseguimos imaginar. Na história, existem os Irmãos que fiscalizam a conduta de todos na comunidade, principalmente as mulheres, as mantendo numa prisão de culpa e honra que não deveriam nem existir. Dói ver como todos fingem que nada acontece, desde que seja para proteger os erros dos homens influentes da comunidade. Não existe forma de achar que vivemos nessa vida para algo tão insignificante como seguir costumes criados por homens e se desobedecer, a punição pode ser uma vida miserável ou a morte cruel e devastadora. Além, claro, de aprendermos que os mais fanáticos são os piores seres humanos, nenhuma novidade no Brasil de 2022.
O empoderamento que essas mulheres recebem por compartilhar histórias de suas fantasias mais secretas e profundas é algo inimaginável através de uma simples ação de lhes dar voz e importância. Essas mulheres são jovens, sem perspectiva que alguém as leve a sério, muito menos que seus desejos sexuais sejam correspondidos, principalmente por serem viúvas e não poderem se casar novamente. Ver essas mulheres se libertando, sentindo-se importantes, mudando a vida de outros, é algo tão bonito e bem construído que chega a dar orgulho. Não há vulgaridade nas suas histórias, tem algumas que são bonitas de chorar, como as poesias que uma delas conta.
A narrativa sobre Nikki também é muito esclarecedora. Gosto de histórias que contam como o processo do luto é difícil e cada pessoa luta de forma diferente para superar. Mostra que a vida não é perfeita e que precisamos nos adaptar para encontrar nosso caminho no mundo. As coisas não são preto no branco, mas diversos tons acizentados.
Uma historia que vai além do óbvio, propicia conhecer novas culturas e mostra que seres humanos são muito parecidos, independente da tradição e existem grandes perigos em quem sacrifica tudo por tudo. Uma excelente experiência!