gabriela 15/10/2021
Addie LaRue e o pacto fáustico + O que poderia ter sido
Johann Wolfgang von Goethe publicou sua importante obra ''Fausto'' em duas partes até o ano de 1832. Se Johann Georg Faust realmente vendeu sua alma ao diabo não sabemos, mas o que sabemos é que graças a esse místico humano, a literatura mundial perpetuou sua possível trajetória por séculos.
Me deixa alegre que o público jovem e o público da V.E Schwab tenha a oportunidade de conhecer esse mito, de se deliciar em sua intensidade e complexidade.
Não irei me demorar na sinopse, mas acompanhamos Addie LaRue uma jovem francesa do século XVII, que vive na penumbra do tédio e de uma vida indesejada, ela conjura um pacto com um Deus da escuridão e passa os próximos 300 anos de sua vida, aprendendo a ser livre e a viver como um fantasma entre os seres humanos.
O livro agrada na escrita, a autora foi delicada com as palavras e leu muito antes de escrever qualquer coisa desses últimos 300 anos. Essa é uma história sobre amor, tempo e vida. O amor vai aparecer diversas vezes na vida da Addie, desde o seu pai a Estele, desde Remy a Henry, e V.E Schwab se sai muito bem em enriquecer os detalhes da delicadeza do amor, a dor, a dificuldade, a paz e a felicidade.
O livro não é perfeito, ele poderia ter sido muito mais, Addie nunca conheceu o mundo de verdade, ela foi por onde Luc ia, ela conhecia onde era capaz de conhecer, mas conheceu muito pouco. 300 anos anos de vida em que ela não apreciou nada além da América do Norte e da Europa, onde ela estava presa ao seu reflexo perfeito, o diabo Luc. Addie se cansou de viver ao longo dos séculos, mas nunca sequer chegou perto de conhecer a grandeza do mundo, ou pensar na grandeza do universo, o seu mundo era pequeno.
Henry é um personagem interessante, embora ele possa parecer a principio não ter muita personalidade, não ter objetivos e ser como qualquer um seria, exceto por ter pedido para ser amado incondicionalmente, por todas as pessoas. A autora deu espaço a Henry e seus amigos e familiares durante a história e eu particularmente não me senti extremamente apegada a ele, senti falta de amá-lo e querer ver sua trajetória mais de perto, as partes dele me deixavam com mais tédio e menos interessada, infelizmente. Embora talvez seja a intenção da autora fazer o personagem ser uma pessoa extremamente comum, eu não consegui enxergar quem ele era de verdade.
Embora a história pareça ser sobre a Addie e Henry, esse livro é sobre Adeline e Luc. Os dois se pertencem, há uma linha invísivel os ligando, e há um espelhamento e encaixe perfeito entre os dois corpos, mas só é possível entender isso quase para o fim do livro.
A V.E pesa bastante a mão durante o livro, ela sabe onde quer chegar, mas demora para chegar ao ponto, terminou sendo prolixa e dando voltas no mesmo espaço. Em uma parte da narrativa a autora gasta MUITAS páginas nos contando a mesma coisa sobre a vida de Addie e seus encontros com o Luc, ela não nos deixa entender a profundidade e frequências desses encontros, ela nos conta EM TODAS AS VEZES, o que torna a leitura cansativa e nos dá a sensação de que se tirasse 200 páginas e mudasse a forma como ela quer mostrar a ligação entre Addie e Luc, nós teriamos um resultado melhor.
É um livro bom, bem melhor do eu esperava, tem muitas referências lindas em várias passagens, há um sentimento de conforto e aconchego, mas há também suas falhas.
Acredito que para a maioria o livro vai funcionar, mesmo com o tamanhão dele, é um livro romântico, dramático, intenso, por vezes sombrios e reflexivo. É meu segundo contato com a autora e por enquanto estou gostando das obras dela, acredito que ela esteja melhorando como escritora, pelo o que eu vejo sendo comentado pelos próprios fãs e mundo a fora (literalmente).