Lauraa Machado 25/10/2021
Uma ideia incrível, mas uma história previsível e sem graça
Existe alguma coisa pior do que um livro que tem um hype enorme não ser tão bom quanto falam que é? Eu nem esperava que esse livro fosse perfeito, já tinha lido algumas resenhas de pessoas em quem confio e quase todas falaram que o começo era um pouco parado, que a autora demora para revelar o ponto principal do livro. Eu já esperava isso, mas pelo tanto de gente falando sobre esse ser o livro da vida delas, também esperava que no final, quando tudo fizesse sentido, fosse me surpreender, fosse encontrar a conexão que daria ao livro propósito e que fizesse ele me marcar.
Definitivamente não esperava me decepcionar mais com o final do que com o começo.
Quero deixar bem claro aqui que o livro é bom, sim, e que a escrita da V. E. Schwab nunca esteve tão boa (pelo menos em relação aos outros quatro livros dela que eu já li). Tem tanta passagem bonita, tanta frase tocante, que dá para ver que a autora trabalhou cada trecho. Ainda assim, ela tem uns vícios de linguagem que me incomodaram demais depois de um tempo.
Uma coisa é um autor ter vícios em frases comuns. Mas a autora aqui tem vícios com frases bem específicas, que chamam a atenção toda vez que aparecem. Eu apostaria ter pelo menos uns cem 'And yet' nesse livro. Comecei até a trocar por sinônimos na minha cabeça depois da metade, porque chegou a me incomodar a ponto de eu pegar raiva e ignorar o que estava acontecendo na cena.
O problema não é só com termos e frases, é de palavras também. Quando apareceu a palavra 'palimpsest', eu achei legal. Só tinha visto ela uma vez na vida, então me chamou a atenção. Mas a autora repete ela e sua metáfora mais três vezes! Toda a graça de antes se perdeu só por isso. E não é a única palavra com a qual isso acontece.
Mas a pior parte do livro, para mim, aquela que me fez querer muito dar uma nota menor, é que a história inteira é previsível. Todas suas 'reviravoltas', todos os segredos que só são revelados mais próximos do final, todos os problemas e soluções que nascem deles. Eu contei a história da primeira metade do livro para duas pessoas (não uma, duas) e as duas adivinharam o final. É claro que eu adivinhei também! Todas as reviravoltas! E eu ainda fiquei esperando, porque me prometeram, um final surpreendente, algo que me fizesse pensar que a sacada da autora para a história tivesse sido inteligente, marcante, brilhante.
Mas não é. É bem simples, previsível, até um pouco sem graça. A história da Addie tinha tanto potencial para um apelo emocional, sua história com Henry então, muito mais. Mas cheguei ao final sem me importar tanto com o que aconteceria, principalmente porque eu já estava esperando o que veio. Não tem como sentir urgência, como me envolver e torcer por algum personagem, quando já sei há centenas de páginas o que vai acontecer com ele. É extremamente decepcionante ler uma história que tinha tanto potencial para ser diferente ser tão batida.
Porque eu sou uma pessoa que trabalha com livros e gosta de solucionar as coisas, fiquei pensando por um bom tempo o que eu teria aconselhado a autora a mudar se fosse sua editora. Primeiro, acho que ter capítulos pelo ponto de vista do Henry não foi uma boa ideia. Realmente não sei por que tantas pessoas gostam de ver todos os lados. Eu sou mais fã de ter um ponto de vista só, de saber que tudo que estou vendo passa pelo olhar de uma única pessoa, de não ter todas as respostas e todas as informações. Acho, aliás, que contar pelo lado dele tirou a graça de muitas descobertas da Addie. Além de que mudou o foco da história de um jeito que, na minha opinião, não combinou com o resto.
Essa é a minha resenha, então tudo aqui é 'na minha opinião', claro, mas achei bom falar.
Também acho que teria ficado bem melhor se o livro tivesse um foco só na vida 'passada' da Addie. Primeiro, porque nada foi tão tocante e interessante quanto o começo de sua história, seu desespero em ter uma vida diferente e ela descobrindo os limites de sua maldição. Essa era a parte mais única e especial do livro, mas ela foi logo abandonada. Segundo, porque os 'aniversários' da maldição se tornaram bem cansativos e repetitivos depois de um tempo e, quando eles mudaram de rumo, foram contados super rápido. Preferia ter visto mais do que aconteceu entre eles, de ela aprendendo realmente a se virar. E também acho que a relação dela com Luc foi mil vezes mais interessante do que a dela com o Henry.
Assim, não me leve a mal, a dela com o Henry é bem mais saudável e às vezes me sentia lendo Alina e Darkling quando Addie estava com o Luc. Não cheguei a shippar os dois de jeito nenhum, mas a relação em si, o desenvolvimento dela, foi bem mais interessante. Foi mais inesperada, mais complexa. Acho, aliás, que todo o romance da Addie com o Henry foi feito de um jeito bem superficial e parecia que era entre duas pessoas quaisquer, não que ela fosse uma delas.
O que eu quero mesmo dizer é que Addie encarou sua relação de um jeito tão comum. Ele também, claro, mas Addie principalmente. Ela parecia uma garota de vinte e poucos anos normal, e sabe? Ela tem mais de trezentos anos. Trezentos! Não é possível que nesse tempo todo ela continuou com uma cabeça de vinte e poucos! E ela ainda é tão ingênua e passiva em relação ao Luc, que me irritou um pouco ver o aniversário da maldição naquele ano. Trezentos anos de vida e ela não conseguiu se tornar um pouco mais esperta? Trezentos anos e ela nunca pensou antes em fazer o que fez no final? São trezentos anos, caramba! Cinco anos atrás eu era uma tonta comparada a hoje! E ela só viveu duzentos e noventa e cinco anos a mais que isso e não acordou para a vida nesse tempo?
Pior ainda, para mim, é o fato de ela ter essa idade nem ser fator para nada. Ninguém estranha isso. Quer dizer, o Henry provavelmente pensaria duas vezes antes de começar a namorar uma mulher de oitenta anos, certo? Ele tem 28 para fazer 29, não é como se ele costumasse sair com pessoas com cinquenta anos a mais que ele. Por que então ele nem questiona sair com uma mulher que tem mais que duzentos e noventa anos? E como essa mulher tem tudo isso de anos nas costas e continua igual? (Ainda não me conformei, vou me perguntar isso mil vezes.)
Outra coisa que me incomodou demais foi o fato do livro não ter enredo. Quer dizer, as partes do passado são uma coleção de acontecimentos, muitos interessantes, os primeiros são mesmo o ponto alto da história para mim, mas não é um enredo. Não são acontecimentos que levam ao próximo, depois a outro, que têm consequências diretas e afetam ou definem o rumo da história. O presente, que era quando devia ter enredo, é super raso, vira também uma coleção de acontecimentos do relacionamento de Addie com Henry desde que eles são desconhecidos até mais tarde, e quando finalmente a história deles mostra um propósito, ele é tão previsível que não cria um clímax emocionante nem nada assim.
É, aliás, um livro sem picos de emoção. O maior deles é quando Henry a reconhece e isso está na sinopse! Nada depois disso impressiona, cria urgência, emoção ou interesse depois, porque você já sabe o que vai vir. Foi um livro bastante insosso na maior parte do tempo para mim, infelizmente.
Acho que a história teria esses picos de emoção se não tivesse a parte do Henry e do presente, ou talvez se a autora tivesse escondido essa questão de ele se lembrar dela. Não sei. Só sei que, como ficou, ela usou uma ideia brilhante da maldição de Addie de um jeito bastante simples e esquecível (veja só a ironia). É claro que nem todo livro precisa ter grandes enredos, mas aí precisam compensar com personagens extremamente complexos, com passagens emocionantes ou com um propósito especial. Alguma coisa precisa ter prioridade, e aqui parece que tudo, menos a premissa, ficou no mesmo nível, beirando o medíocre.
Essa resenha está rapidamente se tornando um rant! Eu dei quatro estrelas para o livro e passei a resenha inteira reclamando dele? Talvez. O fato é que a história ter sido tão previsível e parecer não ter propósito foi uma das maiores decepções da minha vida, porque a ideia da maldição de Addie era maravilhosa! Tão única e intrigante, que eu achei que estava prestes a ler um livro que me marcaria demais! E a escrita é, sim, incrível, a ideia e várias cenas, principalmente as mais próximas de quando a maldição começou, são ótimas. É por causa desse começo e da escrita da autora que eu dei uma nota mais alta do que acho que valha.
Porque, para mim, esse livro não deveria ganhar mais do que 3 estrelas. Ele é okay, mas nem um pouco tão bom quanto sua premissa faz parecer. Os personagens são bem criados, mas nem perto de tão complexos quanto deveriam ser, considerando pelo que eles passaram. E as relações entre eles foram bem desenvolvidas, mas não como deveriam depois de tantos anos. É um livro que entrega uma história satisfatória, pelo que prometeu, mas que não chega a impressionar, a marcar ou a surpreender em nada.
Ainda recomendo, claro, mas não posso dizer que vai ser um livro que mudará sua vida. Se você lê bastante, pode se decepcionar fácil com ele, como foi comigo. Acho bom indicar o livro já falando que é previsível, mas que ainda vale a leitura.