Mariana 04/05/2021"É um desses livros que se faz para si, por consciência", Zola confessa a um amigo em 1884 a respeito do que redigia. A imprensa pouco depois confirma se tratar de um romance operário, sem, contudo, provocar grandes surpresas: a revolta dos assalariados era a questão do século, a que o autor já havia sinalizado. Mas este interesse só evolui para um projeto durante a Comuna de Paris, quando se depara com corpos fuzilados e que ilustravam "a intensidade dos combates e a selvageria da repressão". Por último, conclui que a greve geral é mais característica da combatividade que a insurreição armada, dedicando Germinal a tal.
Embora os mineiros da aldeia de Montsou dominem a narrativa, essa complexa rede de personagens conta também com os patrões burgueses, para enriquecer e contrastar o panorama. Pois enquanto a resignação condena cada geração da família Maheu ao trabalho incessante em condições insalubres e prejudiciais à saúde, bem como à miséria; a inércia dos Grégoires, herdeiros acionistas, permite viverem confortavelmente, sobretudo porque na ignorância.
Ainda assim, a preocupação da Companhia com o desmoronamento da mina incide no salário dos trabalhadores, já inflamados pelas lideranças revolucionárias que se formavam. Étienne, caracterizado pelo coletivismo, embora com ideias e modo de agir muito rudimentares para ser considerado socialista, tão logo é empregado na Voraz, usurpa a popularidade de Rasseneur, o pequeno-burguês moderado. Ao seu lado, a figura da moda: o niilista russo, Suvarin, cujo mito do extermínio regenerador tanto o assusta como encanta. Entre uniões e rupturas, eles representam as três correntes da esquerda.
Depois de dedicar um mês inteiro quase que exclusivamente a esta leitura, não posso negar que Zola se alongue e repita desnecessariamente, gerando fadiga. A escrita, com traços inverossímeis, tampouco foi minha parte favorita. Mas um real problema só tive com a insistência no triângulo amoroso Chaval-Catherine-Étienne, insensível à violência a que a garota é submetida por ambos.
Com as devidas ressalvas, sem exagero ou contradição, considero esta uma das melhores obras que já li.
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