Heitor 11/06/2012
Quem não se perde em um AMOR verdadeiro ?!?!?!
A novela passional "Amor de Perdição" (1862), de Camilo Castelo Branco, conta uma emocionante história de amor em que jovens lutam até o final de suas vidas para verdadeiramente alcançá-lo. Mas antes de comentar-mos sobre a obra, especificamente, vamos entender um pouco da realidade e da vida do autor.
Podemos dizer que Camilo teve uma vida parecida com a história da obra. Desde pequeno sua vida já era bastante conturbada. Com apenas 1 ano de idade, perde sua mãe que por conta disso nem teve tempo de registrá-lo, e mais para frente, com 10 anos, perde seu pai. Sua guarda ficou nas mãos de uma tia e depois de uma irmã, com isso sua educação noi foi lá das melhores...
Seis anos depois, Castelo Branco resolve se casar e tem um caso com uma freira. Este casamento não dá muito certo, e ele decide fugir com Ana Plácido, uma mulher já casada com um imigrante brasileiro. Porém, o até então marido de Ana à denuncia a polícia por adultério, e tanto ela quanto Camilo são presos.
É nesta cadeia que, em incríveis quinze dias, Camilo escreve "Amor de Perdição", com o intuito de defendê-lo no tribunal, alegando que tudo o que fez foi por que estava perdido de amor. A estratégia funcionou ...
Com o passar do tempo, Castelo Branco, que nesta época já estava casado com Ana Plácido, vive momentos muito infelizes em sua família. Um de seus filhos enlouquece, passa a ter dificuldades financeiras e começa a perder a visão. Todos esses fatos o leva ao suicídio.
Com todos esses fatos, podemos deduzir que "Amor de Perdição" pode ter sido inspirado no famoso "Romeu e Julieta", ou até mesmo na própria vida do autor.
Focando na obra, ao longo de vinte capítulos, o narrador descreve fatos do amor impossível entre dois jovens. Simão Botelho, de dezoito anos e explosivo, filho de Domingos Botelho e D. Rita Castelo Branco, (uma família nobre); e Teresa de Albuquerque, quinze anos, filha de Tadeu de Albuquerque (que também pertence a uma família nobre), não podem se entregar um ao outro devido a um desentendimento entre as duas famílias, que por coincidência, são vizinhas.
Para afastar o casal apaixonado, o pai de Simão o envia à Coimbra, e o pai de Tereza quer obrigá-la a se casar com seu primo Baltasar Coutinho. Mas, a moça se recusa a cumprir a vontade do pai. Nesse meio tempo, o casal de apaixonados se comunicam através de cartas que entregam a uma mendiga velha que faz o papel de "pombo-correio". Simão, ainda em Coimbra, sabendo desse plano, volta a Viseu, e se esconde na casa de um ferreiro simples, chamado João da Cruz, que possui uma filha: Mariana.
Mais tarde, depois de alguns acontecimentos, Tereza não tem mais escolha e é obrigada a ir para um convento no Porto. Simão que conta com a ajuda de João, decide raptá-la no dia da sua transição para o convento. Porém, neste ato, se depara com Baltasar. Os dois discutem, e Simão para proteger a sua honra, atira contra a cabeça de Baltasar, que não resiste e morre. Simão se entrega à polícia, vai a julgamento e é condenado à forca.
Sua família sendo burguesa, Simão poderia pedir a seu pai que o livrasse da pena com suborno às autoridades, porém não estava disposto a receber ajuda e nem seu pai com ele se importava. Contudo um membro da família já idoso, ordena que Domingos livre seu filho da forca. O resultado era o exílio do prisioneiro para a Índia. Sabendo desta punição de Simão através de cartas, Tereza se desespera no convento e começa a adoecer de amor.
Durante o período em que Simão se hospeda na casa de João da Cruz, sua filha Mariana, se paixona loucamente por ele. Ela é a única que o visita na cadeia todos os dias, e apesar do amor não correspondido não sente raiva de seu amado. O mais impressionante é que ela mesma é que passa a fazer o papel de "pombo-correio" que antes era da mendiga. Mariana sofre dia após dia mas não deixa de amar Simão.
Simão escrevia à Tereza todos os dias. Certo dia, Simão recebe uma carta informando da morte de João da Cruz. Este foi assassinado pelo filho do criado de Baltasar Coutinho. Mariana decide então, acompanhar Simão para a Índia, já que não tem mais ninguém por ela.
Tereza que depois de saber que o pai de Simão iria ajudá-lo a escapar da forca, e que em troca lhe era oferecido dez anos de prisão sem precisar se exilar, teve uma imensa melhora com relação a saúde. Contudo, ao Simão revelar que prefere o exílio, adoece novamente de amor.
Bom, quanto ao final, acho que não devo revelá-lo aqui senão o livro perde a graça. Lembre-se de que a obra pode ser comparada com "Romeu e Julieta" e também de uma fala do narrador no início da obra:
"Amou, perdeu-se, e morreu amando"
Particularmente, esse tipo de enredo extremamente romântico, às vezes até "meloso" e melancólico, não é o meu favorito. O livro possui uma linguagem bastante complexa, mas temos que levar em conta que a obra foi escrita a dois séculos atrás e em Portugal. De início vai haver a estranheza das palavras por quem não está acostumado ('meu caso'), mas no desenrolar da história fica fácil a compreensão. É recomendado para quem gosta de ler com calma e ampliar seu vocabulário, já que tem diversar palavras diferentes que não usamos em nosso dia-a-dia.
O interessante do livro é que ele subjetivamente critica vários aspectos da sociedade da época. Podemos perceber a cítica às leis, (quando fica claro que a burguesia pode interferir economicamente na vida de um preso); à burguesia; à Igreja (já que ao chegar ao convento, Tereza se decepciona ao descobrir vícios e intrigas das outras freiras); ao "casamento de encomenda" (já que os filhos deveriam se casar com os parceiros escolhidos pelos pais).
Fora os "defeitos inevitáveis", essa novela nos surpreende com seu final, que felizmente ou infelizmente não termina em: " ... e viveram felizes para sempre ...".