Maris 17/11/2009
O ponto forte das obras de Machado de Assis é a precisão e sinceridade ao lidar com os aspectos psicológicos das personagens, numa época onde os estudos científicos nessa área eram rudimentares. Quando ele fala de loucura, aí é que se torna imperdível. Há loucura em "Quincas Borba", portanto já é muito bom, porém Machado consegue, neste livro, abordar questões tão ou mais interessantes que esta, à qual dedicou maior atenção em "O Alienista". Os devaneios das personagens ao admirar objetos desinteressantes ou ao escorregar os olhos por livros sem os ler direito são algumas das mais agradáveis, pela verossimilhança. Mas há também os aspectos críticos. O protagonista Rubião, por exemplo, enriquece devido a uma herança, e desde então só bobagens passam pela sua cabeça; passa mais tempo tentando aprender a agir como rico do que a usar o dinheiro de maneira boa ou ao menos eficiente. Um retrato de muitos integrantes das classes altas em todo do mundo, especialmente dos filhos de ricos ou outros que por algum motivo enriqueceram mais por sorte que por outra coisa. A loucura napoleônica de Rubião em pouco difere da excentricidade egocêntrica desses ricos citados, que vencem na vida, destruindo as tribos inimigas, conseguindo, assim, as importantíssimas batatas.