Raquel 20/02/2022
Uma obra melancólica de Machado
Em Quincas Borba, pasme, não acompanhamos a história de Quincas, mas sim de Rubião, mas também de Quincas. Machado não era nada óbvio e adorava fazer jogos de palavras e brincar com o nosso entendimento. Quincas era um aristrocrata que tinha um cachorro, também chamado de Quincas, e Rubião como cuidador/amigo pessoal. Ao falecer, o Quincas humano deixou à Rubião sua fortuna e seu cachorro, Quincas. Então Rubião deixou Barbacena e foi usufruir da sua nova vida aristocrática no Rio de Janeiro com seu amigo Quincas, canino.
Já no percurso de trem entre as cidades, Rubião conhece o casal de capitalistas Cristiano e Sofia e, como não poderia deixar de ser, Rubião se encanta pela esposa do mais novo amigo. Machado adorava expor essas tensões e relações que sempre aconteceram por baixo dos panos na aristocracia carioca.
Sofia cozinha lentamente Rubião em banho-maria. Não o corta e, ainda por cima, vive mandando sinais confusos sobre suas intenções. Por anos! Rubião, inclusive, dispensa diversas oportunidades de se envolver amorosamente com outras mulheres não comprometidas por conta desse cenário agridoce. Cristiano, ficando a par da situação, ao invés de afastar o mais novo amigo, o aproxima ainda mais, envolvendo Rubião e a sua grande herança em negócios que se mostram bastante infrutíferos.
Sem querer estragar o final, posso apenas dizer que esse foi um dos livros mais melancólicos que li e Machado. Apesar de sempre divertido, irônico, sarcástico e provocador, Machado expõe um lado triste e cruel da alta sociedade, fazendo seu personagem principal a maior vítima da ganância e do medo de outrem de se associar com pessoas não bem vistas.
Fechei, com este livro, a leitura dos maiores romances de Machado, ainda mais convicta da genialidade desse autor que, mesmo séculos após sua escrita, ainda se faz tão atual nas suas críticas.