spoiler visualizarrsntl_ 02/02/2023
Que este pequeno livro te seja um
amigo, se a sorte ou a tua própria culpa não permitem que encontres outro mais à mão.
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Neste momento, ser-me-ia impossível desenhar a coisa mais simples; e, no entanto, nunca fui tão grande pintor.
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Tudo flutua vagamente nos meus sentidos, e assim, sorrindo e sonhando, prossigo na minha viagem através do mundo.
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O que disse, da outra vez, sobre a pintura aplica-se também à poesia: trata-se apenas de reconhecer o que é belo e ousar expressá-lo.
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Porque, aqui entre nós, trés vezes depois que comecei a escrever, estive a pique de descansar a pena, mandar arrear o cavalo e ir vê-la. Entretanto, eu havia jurado a mim mesmo que não iria lá hoje, mas a cada momento vejo-me à janela olhando a que altura ainda está o sol...
Não pude resistir, tive de ir vê-la e eis-me de volta, Wilhelm.
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Deixei-a então, pedindo que me permitisse ir vê-la naquele mesmo dia. Ela consentiu e eu voltei lá. A partir desse momento, o
sol, a lua e as estrelas podem continuar a brilhar, sem que eu dê por isso. N?o sei mais se faz dia ou noite; o universo inteiro não mais existe para mim.
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A distância, naquelas paragens, parece-se com o futuro. Um todo imenso, e como que envolvido por uma neblina, estende-se diante da nossa alma; nosso coração aí mergulha e se perde, da mesma forma que os nossos olhos, e ardentemente aspiramos a nos abandonarmos por completo, deixando-nos impregnar de um sentimento único, sublime, delicioso... Mas, ai de nós, quando lá chegamos, vemos que nada mudou: encontramo-nos tão pobres, tão mesquinhos como antes, e nossa alma sequiosa suspira pela água refrescante que lhe fugiu.
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Pobre homem insensato, que julga todas as coisas pequenas, por que és, também, tão pequeno?
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Que Deus vos abençoe, meus queridos amigos! Que Ele vos conceda os dias felizes que me recusa!
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Sim, nada mais sou do que um viajante, um peregrino sobre a terra! E você é alguma coisa mais do que isso?
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Rio-me do meu coração... E só faço o que ele quer.
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Tenho-a toda em mim, e o sentimento que experimento por ela absorve tudo. Tenho-a toda em mim, e sem ela tudo é para mim como se não existisse.
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Ela não vê, não sente que prepara um veneno que nos põe em perigo a ambos. E eu bebo a longos sorvos, voluptuosamente, na taça fatal que me oferece.
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E, depois, leio qualquer poeta de tempos idos, parecendo que lanço um olhar para dentro do meu próprio coração.
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Tomai luto, ó natureza, porque o vosso filho, o vosso amigo, o vosso amante aproxima-se do fim.
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Tudo isso se extingue com o tempo, mas nenhuma eternidade extinguirá a vida ardente que aspirei ontem dos seus lábios e que sinto queimar em mim.