Isaac 14/10/2023
: Confesso uma (não tão) leve demora para escrever sobre esse livro, mas o tempo de certa forma enriqueceu um pouquinho meus pensamentos sobre ele, e lendo minhas anotações, estou pronto para encarar essa jornada de escrita, eu acho.
: Um clássico na literatura alemã, “Os sofrimentos do Jovem Werther” foi e ainda impacta pelo seu protagonista cheio de conflitos sobre o indivíduo e seu pertencimento no mundo, sua interação na sociedade e sua relação com a religião, em especial com Deus, além do que leva muitos a lerem, acredito eu, o seu não relacionamento com uma mulher que está prometida a outro.
: Apenas vê-lo como essa história de um amor não correspondido junto a um fim trágico, faz-se perder muito do que a obra pode oferecer de reflexão, impressões, reações ao leitor. Queria destacar primeiramente o aspecto questionador de Werther que, em vários momentos traz para o leitor suas impressões sobre como ele, de certa forma, avalia a vida, seja nos seus desejos ideais, quanto no que acredita ser ela nua e crua, um toque forte de pessimismo e sinceridade para o que todos passamos pelo trajeto de viver. Seu olhar observador às outras pessoas, junto a seus sentimentos, reações de felicidade, prazer, era uma forma dele procurar entender algo que ele sentia faltar nele para ver sentido em sua vida.
: Uma polêmica sobre o livro está no fato como ele aborda o tema suicídio, em especial, como Werther lida com essa ideia de forma romantizada, vê o suicídio como forma legitima e honrosa de encerrar sua vida dependendo das circunstâncias. Em parte do livro, ele conversa com o noivo de Charlotte, Albert, sobre uma mulher que tira sua vida após perder o cerne de sua existência, um homem a quem se apaixonou muito. Werther vê essa atitude como a única possível para atender uma vida em paz. Além dessa passagem, seus desejos suicidas são vistos quase como um meio de chegar até Deus, onde estaria em paz consigo mesmo.
: Sobre o elefante na sala, existe um choque entre o momento anterior e posterior ao encontro de Werther e Charlotte na história, as cartas enviadas a Wilheim com uma aparente monotonia de impressões das pessoas da região, se tornaram um deleite de emoções vindas do remetente, uma revolução acontecia dentro da mente desse jovem e que é desenvolvida até o final. Sem decorrer nos detalhes, o declínio do protagonista foi narrado de forma apreensiva, dolorosa, ver alguém com tantos sentimentos, conflitos, sendo dominado por uma necessidade irracional de um amor que logo sabemos o destino, foi cruel, não apenas para quem lê, mas também para quem foi o motivo, Charlotte embora não tenha um ponto de vista narrado, o impasse de se relacionar com o prometido, o confortável, o racional, a “escolha certa”, ou de manter contato com alguém que sente muito por muito pouco.
: “Tantas vezes sentimos que nos faltam algumas coisas e justamente o que nos falta parece estar de posse de outra pessoa, a quem ainda somamos todas as qualidades que temos, além de certa satisfação idealizada por nós. Assim, a felicidade está completamente pronta no outro, uma criação de nós mesmos”.